Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 13:19

Qua, 25/11/09

Cheguei a Perosinho às três da tarde. Uma hora de antecedência para a tal reunião com o advogado de família.

Estacionei o carro junto ao muro da casa dos meus pais e atravessei a rua de paralelo já gasto pelo tempo até ao pequeno café da mãe do Ricardo.

Ao subir os dois degraus da entrada, percebi que todas as conversas paravam. Nos seus pensamentos passava, com certeza, a peculiar pergunta: 'é a filha do Bernardino e da Lurdes. O que ela está aqui a fazer?'

Passei entre as mesas à procura de uma vaga para eu me acomodar, tentando ignorar os olhares e os comentários silenciosos dos meus antigos vizinhos. Sentia-me observada a cada movimento que fazia...

A senhora Noémia contornou o balcão com tampo de mármore e aproximou-se de mim. Pedi-lhe um café e perguntei-lhe pelo Ricardo. Respondeu-me que antes de o avisar que eu estava ali, queria falar comigo.

- Este não é o melhor local para conversarmos sobre isto, mas como não costumas vir para estes lados... - Tinha-se sentado de costas para a maior parte dos clientes, que se amontoavam nas mesas iniciais do estabelecimento. Falava num tom baixo, mostrando a discrição de que precisava para o assunto em questão. - Bem, como tu sabes, melhor que ninguém ao que parece, os teus pais sempre foram excelentes pessoas em manter os seus problemas dentro de quatro paredes. Nem mesmo com os amigos eles partilhavam as coisas. Não sei se por quererem ser discretos, por não quererem pessoas intrometidas ou simplesmente porque talvez soubessem que faziam algo de errado. Não sei... 

Beberiquei o restante café da pequena chávena escaldada, sem tirar os olhos daquela mulher de cabelos curtos e encaracolados, que ora pendiam para o castanho ora para o cinzento.

- Para a maior parte das pessoas, os teus pais tinham um casamento perfeito e só foi ligeiramente abalado pela filha mal agradecida. - continuou ela. Acomodou-se mais um pouco na cadeira de madeira, forrada a um tecido de má qualidade. - Ninguém aqui sabe o teu lado da história, apenas nós e não vamos espalhá-lo, não te preocupes, até porque não é da nossa conta para fazer seja o que for agora, pois já não podemos alterar nada. Nós nunca acreditamos numa única palavra do Ricardo e nem mesmo nas supostas provas que tu mostravas. Para nós, as nódoas negras eram simplesmente o resultado das vossas brincadeiras. Nunca passou disso. Mas depois foste embora e tudo começou a fazer sentido, até mesmo o facto do teu pai não te querer cá em casa com o Ricardo... - respirou fundo, preparando-se para finalmente abordar o assunto de que queria falar. - Bem, o certo é que o casamento dos teus pais realmente nunca foi perfeito. Eles eram diferentes, entendes? Depois de tu nasceres, ainda pensei que tudo melhorasse. As condições financeiras melhoravam a olhos vistos. O objectivo do teu pai foi cumprido: ele tinha a sua própria frota de táxis, entendes... E a tua mãe pôde ficar em casa, deixar de trabalhar, que era o que mais queria. Bem, tu deves ter uma ideia de como os teus pais eram. Hás uns meses atrás, sem querer, ouvi uma discussão entre eles. Sabes como é, às vezes deixámos abertas as portas das nossas casas... Foi uma discussão muito feia, com acusações mútuas, mas o certo é que ouvi o teu pai falar em divórcio.

- O queê?! - pronunciei por fim. - O meu pai? Aquela pessoa tão cumpridora dos bons costumes e das regras?

- Agradeço que não sejas irónica, Diana. Não te conhecia assim.

- Desculpe que lhe diga, mas a única pessoa que me conheceu verdadeiramente foi o Ricardo. - Irritei-me quanto àquela afirmação. Nunca tinha acreditado numa única palavra da minha parte, dizendo sempre que era uma invenção das nossas cabeças, minha e do Ricardo, e agora... - Quanto aos meus pais duvido muito dessa situação. A minha mãe só via o meu pai à frente. Eu fui só um meio para satisfazer o desejo do meu pai querer ter filhos, pelo menos foi a essa conclusão a que cheguei. Agora, pode ir dizer ao Ricardo que estou aqui e que quero falar com ele?

A Noémia levantou-se contrariada com a minha reacção e saiu do café, dando indicação ao marido, o Abílio, que ia a casa. Pouco tempo depois regressou sozinha, dizendo-me que o Ricardo tinha dito para eu subir.

- Deixei-te a porta aberta. Ele está no quarto. Suponho que ainda te lembres. - retorquiu.

Agradeci e tentei passar entre ela e a mesa.

- A única coisa que te peço, Diana, é que não voltes a magoar o meu filho como o fizeste há uns anos atrás. Ele ficou de rastos e demorou muito tempo até chegar onde está. Ele tem uma vida tranquila e estável. É professor e tem uns amigos que realmente se preocupam com ele. Não o voltes a magoar.

'Raios, mas quem ela pensa que é?'

 

A porta de madeira já era bastante antiga, mas ainda assim estava em bom estado. Entrei e subi as escadas que davam ao andar superior, que ficava mesmo por cima do café.

De repente vi duas crianças, um menino e uma menina, a correrem atrás uma da outra, rindo, gritando uma para a outra. Uma dizia 'não me apanhas' em tom de desafio e a outra respondia que a ia apanhar de certeza. Era eu e o Ricard.Um daqueles momentos inocentes que tivemos juntos naquela casa.

Bati à porta do quarto dele, que ainda tinha duas placas coladas, uma que informava a quem pertencia aquela divisão e outra dizia 'não incomodar'.

Depois de ele me dar autorização, entrei e deparei-me com um quarto sóbrio. Paredes brancas, um cama de solteiro, prateleiras recheadas de livros, uma cómoda e uma secretária com dois computadores. Ele estava compenetrado no portátil, digitando uma série de palavras num documento de texto.

- A minha mãe disse-me que querias falar comigo - falou, mantendo-se confortavelmente sentado na cadeira forrada a tecido preto. - Estou só a tentar terminar este relatório para apresentar na escola na segunda-feira. Isto de ser director de turma dá que fazer... Além disso, daqui a pouco temos que ir para casa dos teus pais para a leitura do testamento e...

- O quê?!

 



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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