As noites eram sombrias. Negras como a minha vida.
Porque pensava tanto na minha vida? Realmente mais valia pôr fim a ela... Mas se pouca gente dava pela minha existência, muito menos pessoas dariam pela minha morte.
Por isso, talvez essa ínfima esperança de que algo iria mudar fosse suficiente para me levar a continuar a ver os dias passar.
Coloquei-me debaixo do chuveiro, com a água quente a correr pelo meu corpo nu abaixo. Era mais um momento solitário. Como todos os meus dentro daquela casa que nada me dizia.
Tinha perdido o meu lar. Que mais tinha perdido?
Novamente as lágrimas regressavam.
Estes dias eram os piores. O aniversário daquele dia fatídico aproximava-se e era quando me sentia ainda pior.
Sentia tanta falta do que tinha tido e não sabia o que era sentir o que poderia ter e não tinha...
Ele costumava-me olhar pelo vidro que dividia o meu consultório do gabinete onde habitualmente estava. Nunca tinha falado mais comigo depois da tragédia. Pelo menos, não da maneira como o fazia... Porque eu também não deixara...