Uma das heranças do pai do Miguel, eram quatro apartamentos praticamente iguais em locais próximos da praia do Homem do Leme, na Foz. Tinha sido ele a construí-las, enquanto se mantivera ligado à construção civil. Depois de se reformar, distribuiu-as irmãmente pelos filhos.
Portanto, o Miguel vivia entre o seu apartamento praticamente vazio, como me disse, e a casa da mãe, pois custava-lhe deixá-la para já a morar sozinha definitivamente.
Mas o pai tinha outros bens, que não tinham sido deixados escritos no testamento, a não ser uma colecção de selos valiosíssimos ao Miguel, pois este ajudara-o a reunir alguns dos mais raros. Esse facto não contribuía em nada para a sua família chegar a uma decisão quanto à partilha.
- Bem, estava a pensar que podíamos ver um filme.
As palavras dele tinham entrado na minha mente como uma leve brisa, tal era o meu cansaço.
- Acho que não consigo, Miguel. Espero que não leves a mal. Estou cansada e agora estou a pensar apenas em ir-me deitar.
- Não te preocupes. - Afastou-me dele cuidadosamente e levantou-se. - Também já está na minha hora. - Olhou o relógio cromado, verificando que já era quase uma da manhã. - É melhor ir-me embora.
Tentei colocar-me ao mesmo nível que ele, apesar da diferença da altura, e perguntei-lhe:
- Queres ficar a dormir cá?
- Tens a certeza?
- Se não a tivesse, não te perguntava, não era?
O sorriso desta vez foi mais realçado pelo brilho do seu olhar e abraçou-me.
Às quatro da manhã, conforme me indicava o relógio digital em cima da mesa de cabeceira de mogno, acordei. A televisão ainda se mantinha ligada. O programa era um documentário sobre a vida selvagem no National Geographic.
- Não consigo dormir - falou, ao reparar que eu me tinha mexido.
- Estranhaste a cama?
- Não se estranha a cama com companhia tão boa! - Virou-se para mim e fitou-me. - Depois daquela conversa sobre o meu pai, fiquei a pensar no assunto. Eu sei que já renunciei a tudo o que ainda poderia ter, mas...
- Não me tinhas dito isso...
- Pois... Quando te disse que não voltaríamos a ser interrompidos por este assunto, foi isso que resolvi e lhes disse. Estou farto de discussões. A minha família nunca foi muito normal, mas sempre me dei bem com os meus irmãos... Além disso, sinto-me bem assim. Tenho o meu trabalho, a minha casa, a minha mãe e agora tenho-te a ti. Não preciso de mais nada...
Dei-lhe um pequeno beijo no rosto e depois na boca. Aproximou-se de mim, colocou o seu braço esquerdo por cima do meu corpo e retribuiu-me o carinho. De cada vez que me tocava nos lábios, o beijo tornava-se mais íntimo. Em instantes, tirei a minha camisa de noite e ele tirou a pouca roupa com que se tinha deitado. Os nossos corpos colaram-se pele contra pele e o calor que nos rodeava, tornou-se num desejo incontrolável de ele me possuir e de eu o sentir dentro de mim.
Soltámos um úlitmo suspiro de prazer quando nos viemos e enroscámos os nossos corpo, que cada vez mais pareciam encaixar-me melhor.