Tentei sacudir as cinzas do interior do meu carro, mas era algo inevitável. Enquanto mantivesse a porta aberta, continuava a entrar aquilo que era resultado de um fogo intenso.
Estava em plena Praça Velásquez, nas Antas. O fumo era violento e o ar começava a tornar-se praticamente irrespirável...
Sentei-me ao volante do meu carro e o meu telemóvel tocou.
Como me lembro tão bem desse dia se foi há mais de dois anos? Foi quando tudo mudou...
O céu estava pintado de um azul cinzento. A cada passo dado na rua cinzas caíam no cabelo, na roupa… no chão. O calor apertava, fazendo o suor transparecer por todos os poros do corpo. O sol queimava a pele, afigurando-se momentaneamente manchas vermelhas na epiderme. Abri a porta do carro. As faúlhas entravam repentinamente sem pedir licença. O veículo já começava a participar na cena dos incêndios naquele ano de 2005.
O país ardia. As cidades, outrora só com estradas e prédios irreconhecíveis, eram agora invadidas por fumo e fogo.