... acho que essa era a palavra que me vinha à cabeça quando olhava para o João. Tinha tentado me agarrar à vida com um simples gesto de uma flor solitária no meu gabinete e uma declaração de amor, sabendo que eu deixara de ser a mulher por quem se tinha apaixonado.
Ninguém me podia salvar essa é que era a verdade. Apenas eu tinha o condão de me querer agarrar à vida e eu tinha consciência disso. Tinha consciência disso desde que me tentara suicidar pela primeira vez e, mesmo me arrastando com os meus sapatos de tacão alto, continuava a ver os dias passarem por mim, querendo, desejando realmente que alguém me salvasse, nem que esse alguém fosse a morte... Este ciclo de primaveras e invernos tornava a decisão adiável.
Quando fechava os olhos à noite na minha cama, sentia sempre um arrepio de frio, imaginando pela milionésima vez o corpo gélido da minha avó ao meu lado. Ela tivera uma morte tranquila, eu tinha uma vida recheada de pesadelos.