Tinha medo constante de adormecer. Tinha medo quando anoitecia. Dormir. Ficar acordada. Insónias. Ler um livro. Reviver lembranças. Chorar. João.
Empurrava os lençóis e o cobertor da cama, depois de vestir o pijama. Não me queria deitar. Televisão. Ficava ligada toda a noite, com a luz a iluminar todo o meu quarto, fazendo sombras nas paredes brancas e deslavadas.
Deitava-me. Fechava os olhos. Escuridão. Terrível escuridão que me assombras e me matas de cada vez que te tento alcançar e que tento impedir que me leves para esse mundo profundo de lembranças dolorosas. Avó. Avó, onde estás? Avó!
Chamo por ti, mas não me ouves. Como podes? O teu corpo está na minha presença, mas a tua alma fugiu para longe, fugiu não sei para onde, fugiu para um lugar onde não há solidão, onde não há tristeza. Estás com o avô? Leva-me contigo. Porque me deixaste sozinha?
Grito. Grito de comiseração. Salva-me, João! Salva-me, avó! Alguém me salve. Alguém me mostre como viver ou me deixem morrer.