Depois de covardemente ter desviado o meu olhar do dele, o quarto encheu-se de uma profunda interrogação e ele optou por me deixar sozinha. Que sina a minha...
Olhei o meu relógio pousado imóvel em cima de uma mesa de cabeceira metálica branco-hospital . Eram quatro horas. Hora do lanche. Uma mulher estranha de sorriso falso entrou com uma bandeja, que continha um pacote de bolachas e uma caneca de chá. Dieta?? Além de uma vigilância permanente, ainda tinha direito a uma refeição tão horrivelmente insossa.
Olhei novamente o relógio. Já tinha passado mais de uma hora depois de ele ter saído.
Regressou e eu sorri.
- Preparada para falar comigo? Se não o fizeres, acabas por falar com a tua psiquiatra. Como preferes?
- Nem com um nem com outro.
- Quando é que vais enfrentar a realidade, Luísa? Não podes continuar a ser covarde.
- Deixa-me.
- Não! Vais-me ouvir. Tu tens que aceitar que os teus avós morreram e que não podes fazer nada para alterar isso. É duro ouvir isto, mas eles morreram e pronto.
- Mas não foste tu que acordaste e olhaste para o lado e viste um corpo inerte, pois não? Não foste tu que acordaste depois de um dia doloroso com o velório do teu avô e na mesma cama que tu, estava a tua avó morta, pois não? Fui eu, fui eu!