Tempo de sair à noite. Acompanhada por velhos amigos e uma muleta, fomos até um barzito em Salgueiros.
Estar dependente de alguém é algo que eu evito, mesmo que isso se refira aos meus bons amigos. Verificar que param o carro mesmo ao lado do café para onde vamos, apenas por minha causa, é algo que me incomoda, mas mesmo assim eles fazem por isso.
É bom termos amigos, mesmo que isso implique que nos aborreçam com temas em que eu estou constantemente a matutar. Sim, ver que sou a única que não tem uma cara-metade...
- Já souberam que aqui a nossa querida amiga solteira e extremamente tímida anda a apreciar um belo homem de olhos verdes?
- A sério?! - exclamaram todos, aproximando-se mais da mesa, dirigindo toda a sua atenção para mim, com os seus olhares sedentos de fofoquices.
- Pára com isso. Não lhe liguem.
- Não, agora quero saber tudo - retorquiu a Verónica, a voluptuosa Verónica, que se mantinha sempre acompanhada por um homem diferente de meio em meio ano.
- Desculpa, não tenho culpa que o facto de não te conseguires apresentar, seja motivo de conversa. Estás sinceramente à espera que seja ele a vir ter contigo? - perguntou a minha amiga Sónia, que acompanhou de perto este suplício de prisão domiciliária.
- Talvez...
- Não comeces com essas respostas. Gostas do tipo, vai-te a ele.
- Não fales assim, Sónia.
- Agora deste para seres pudica??? Acho que tenho uma ideia, vou-te ajudar...
- Não, não vais fazer nada. Não te metas neste assunto.
- Que assunto? É que não há assunto.
- Meninas, meninas, parem! - acalmou a V. - Mas sinceramente, Ana, tu não eras assim...
- Posso deixar de ser o centro das atenções, por favor?
- Não - responderam todos em uníssono.
Que novela mexicana em que me envolvo sempre que há homem envolvido...
- Fazemos o seguinte, Ana, - retaliou a S. - da próxima vez que o vires no café, apresentas-te. Isso não implica que te envolvas com ele, podem ficar amigos... E nós não te chateamos mais com isso, poder ser?
- Talvez....
Fujo dos homens, mas não sei porquê.
Termino as minhas relaçoes antes de me poder magoar, mas não sei porquê.
Haverá alguma explicação por parte de um psicólogo?
Gosto de me sentir só em casa e sei porquê.
Gosto de me aconchegar no sofá e sei porquê.
Mas até quando?
Tenho consciência dos meus trinta anos.
Tenho consciência que a solidão e um gato malhado já não me satisfazem.
Tenho consciência que preciso mudar.
Mas isso implica que tomarei uma decisão?