Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 13:32

Qua, 25/02/09

Marcou oito horas e foi pontual.

A Beatriz, única conhecedora da minha relação mais duradoura (quase um ano), não se coibiu de me dizer que a minha mente devia suplantar o coração, ou seja, entender que aquela saída era apenas isso e não uma relação cheia de mentiras e traições. Tão irónica que ela era... Eu acho que devia ser assim: cínica perante estas coisas, especialmente depois do meu envolvimento com o Márcio.

Mas a verdade era que depois de fantasiar tanto, era complicado perceber que agora era real, o Miguel estava em minha casa, à espera de me levar a jantar fora.

Depois de uma discreta indecisão entre uma camisola vermelha ou preta, optei pela primeira e saí do quarto, belo refúgio do mundo.

Apesar de ausentes elogios iniciais, à partida apenas por simpatia, o olhar dele mirou-me de alto a baixo.

- Onde me levas? - perguntei, já em viagem.

- Recomendaram-me um restaurante na Granja, provavelmente até já conheces, como és daqui de Gaia...

- Então, não és daqui, mas trabalhas cá.

- Certo, o meu irmão sempre viveu por cá e quando decidiu abrir uma empresa comigo optou por Gaia.

- Mas não vivias com ele?

- Ele é meu meio-irmão!

- Ah, certo, já me tinhas dito... Eu tenho uma irmã. Mas ela é de Bragança. Quer dizer, eu também sou... Vim estudar para o Porto e fiquei por aqui. Ela é casada, tem dois filhos e é mais nova que eu.

- Pareceu-me frustração na tua voz...

- Alguma. - Continuamos a conversa quando nos sentamos no tal restaurante, que de facto eu conhecia. - Acho que as coisas aqui são diferentes. Acho que há uma maior pressão para nos sairmos bem profissionalmente, do que propriamente criarmos uma família. Para a minha irmão, foi tudo praticamente fácil. A falta de ambição levou-a a permanecer em casa dos meus pais até casar e a trabalhar na florista que pertence à minha mãe. Ela casou-se com vinte e um anos e já tem dois filhos.

- Parece que lamentas coisas que fizeste ou então que não fizeste.

- Talvez...

- A minha mãe dizia-me com frequência que nunca se deve lamentar aquilo que se faz, senão ela não tinha tido a felicidade de me ter e não se deve lamentar aquilo que não se faz, porque assim vemos a vida passar-nos ao lado.

- Palavras sábias...

- A minha mãe sofreu muito e aprendeu muito com os seus erros. Quando conheceu o meu pai, segundo a minha mãe, ela apaixonou-se no mesmo instante e sem pensar nas consequências entregou-se a ele. Depois soube que ele era casado, mas ela já estava grávida... Bem, já temos aqui a nossa comida. Chega de falarmos de coisas desagradáveis!

 




df @ 13:10

Sex, 20/02/09

Sábado e eu rebolava na cama, incapaz de me dar o descanso merecido depois de uma intensa semana de trabalho. Completamente desiludida pela expectativa que eu própria tinha criado, levantei-me e preparei o meu pequeno-almoço, enrolando-me de seguida num cobertor que vivia desde tempos imemoráveis no sofá. Entretive-me a ver televisão, sem dar conta das horas passarem, sem prestar atenção devida à Beatriz, que entrava e saía da sala, dissertando sobre as suas aventuras por terras nipónicas, até que... até que a campainha tocou, despertando-me da minha apatia.

- Ana, é para ti! - afirmou a B. - é um tal de Miguel.

- Miguel?! - fiz um ar pensativo e retorqui - Será o Miguel do café?

- Não sei, mas o teu leque de conhecimentos masculinos é diminuto, por isso a probabilidade é grande.

Segundos depois, abriu a porta e acompanhou-o até à sala, onde eu permanecia imóvel, tentando acalmar o coração, esse estúpido que só provocava ilusões, e o meu roso, que começava a ruborizar.

Mal o vi na soleira, levantei-me.

Mais  uma vez, não foi necessário gastar o meu fluente vocabulário, ele falou por ambos...

- Olá! - cumprimentou. Manteve a distância, talvez por timidez, ou simplesmente por respeito à minha pessoa.

- Eu vou deixar-vos à vontade- Vou sair, Ana - falou a Beatriz. Comentário ignorado por nós...

- Desculpa aparecer assim em tua casa... Bem, eu queria desculpar-me por ontem - envolvido em tantos lamentos, o seu discurso foi ganhando confiança e centímetro a centímetro, foi-se aproximando de mim - Não correu conforme eu tinha esperado... Comecei a enrolar, a falar de trabalho... Pedi o teu contacto à tua tia e ela deu-mo juntamente  com a tua morada. Decidi aparecer pessoalmente.

- Como é possível que ela tenha dado os meus dados a um estranho?!

- Para ela não sou um estranho.

- És sim - refutei, mas ele estava perto de mais, para eu poder me zangar...

- Frequento o café há mais tempo que tu. Tu nem há um ano lá vais... Eu vou lá há três anos.

- Não deixas de ser um estranho e eu a sobrinha!

- Vais continuar a bater na mesma tecla, ou podemos passar à fase seguinte?

- Fase seguinte?

- Sim, estava a pensar que podíamos ir jantar hoje. Uma espécie de segunda oportunidade. Aceitas?

O meu telemóvel tocou.

- Miguel, tenho que atender.

- Eu vou embora logo que digas que posso vir-te buscar logo.

Sorri e voltei a repetir.

- Tenho que atender.

- Até logo então.

Ouvi a porta bater e vi quem era que me ligava. Era a minha irmã. Talvez lhe retribuísse a chamada mais logo. Talvez.... 

 


música: Deolinda - Ai rapaz


df @ 12:43

Qui, 19/02/09

Na entrada do meu apartamento, a Beatriz esperava sentada no chão, rodeada por mais malas do que aquelas que levara há três meses para o Japão. O jet-lag parecia que não afectava a sua constante boa-disposição, por vezes, irritante até.

- Pensei que a esta hora estivesses em casa - disse, depois dos abraços efusivos e carinhos sentidos.

- Pois...

- Não me digas que interrompi alguma coisa importante... Estavas com o tal jeitoso do café? Finalmente decidiste-te?

Depois de lhe contar o quão difícil foi trocarmos a primeira palavra e depois de lhe explicar o quão enfadonho ele parecia ser, troçou de mim.

- Bem, pelo menos vê pelo lado positivo: tentaste aproximar-te de um homem, em vez de fugir dele...

- Sim, sim...

Depois de surripiar os armários da cozinha para aconchegar o estômago, expressou vontade de se ir deitar:

- A conversa está muito agradável, mas continuamos amanhã, estou cansada.

 




df @ 14:12

Seg, 16/02/09

- Espera, Ana!

Era o meu nome pronunciado. Aquele chamamento era para mim, vindo da parte dele.

- Olá! - disse, quando se aproximou de mim. Tinha largado o telemóvel e levantou-se apressadamente para impedir a minha fuga. - Posso-te convidar a ficares mais um pouco?

Apesar de já ter revisto esta situação na minha mente vezes sem conta, diria que estava surpresa, boquiaberta mesmo. Vazia de palavras, apenas abanei a cabeça afirmativamente e acompanhei-o até à mesa. De repente, todas as pessoas, todo aquele espaço se tinha reduzido a nós os dois e àquela mesa do canto.

- Desculpa esta bagunça, mas o trabalho persegue-me. Ou sou eu que o persigo... - disse, baixando o ecrã do computador portátil e empilhando os papéis de forma aleatória em cima de uma cadeira - Para onde quer que vá. há papelada a olhar para mim - continuou - Não é muito bom sinal, pois não?

- Pois... Acho que depende daquilo que fazemos e se gostamos realmente disso - lancei a típica frase de fazer conversa.

- Sim e gosto muito. Eu e o meu irmão - quer dizer, o meu meio-irmão - somos sócios de uma empresa de criação e gestão de sites entre outras coisas. Eu sou responsável por esta parte principal e ele trata das coisas comerciais.

- Parece interessante...

- A tua empresa tem site? Hoje em dia isso é fundamental.

- A minha empresa?! - soltei um ligeiro sorriso de ironia - Sim, a empresa onde trabalho já tem site. Teria de ter, até porque o seu mercado é 80 a 90 por cento internacional.

- Sabes que as pessoas - algumas pessoas - ainda ficam muito relutantes quando se fala desta situação. Mas caminhamos cada vez mais para uma sociedade virtual e cada vez mais somos individualistas, ou seja, se não for preciso sair de casa para comprar determinadas coisas, assim o faremos...

 

O meu telemóvel tocou. Fosse quem fosse, tinha-me salvo de uma palestra pró-tecnologia.

- Ana, estou de volta, amiga - disse-me a voz feminina do outro lado da linha, bastante efusiva.

Pedi-lhe desculpa pela interrupção, mesmo sem ter sido sincera, e levantei-me para falar com a Beatriz.

- Já estás em casa? Porque não me disseste nada? Tinha-te ido buscar ao aeroporto.

- Pois, não te queria incomodar, mas teve que ser. Quero entrar em casa, mas não sei onde pus as chaves... 

 

 

 




df @ 15:35

Ter, 10/02/09

- Já vais embora?

- Sim, tia. Olha, quero levar estes dois bolos - disse, colocando-me mesmo em frente à montra.

- Parece que sou adivinha. Já os tinha guardado para ti - fez uma pausa, enquanto os colocava na caixa. Entregou-ma e afirmou - Ele ontem perguntou por ti.

- Quem?

- Tu sabes quem. Ninguém aqui é cego. Perguntou se eu sabia porque não tinhas aparecido aqui nos últimos dias.

- E tu?

- Disse que provavelmente tinhas ficado a fazer horas extra no trabalho.

- Está bem. Fez mais alguma pergunta?

- Eu disse-lhe que trabalhavas aqui perto, mas não soube-lhe dizer exactamente aquilo que fazes...

- Vocês então estiveram a conversar.

- Foi mais um monólogo. Eu falei e ele ouviu.

- Só espero que não tenhas falado demais.

- Sobre o quê? Querida, as coisas que eu sei sobre ti: és minha sobrinha, vives com uma colega que passa mais tempo fora do que em casa, vens cá duas vezes por dia, porque trabalhas aqui perto e estás interessada no jeitoso, mas tímido, aqui do sítio. Será que há alguém que saiba mais alguma coisa sobre ti?

 

Não resisti e olhei para a mesa dele. O Desconhecido estava ao telemóvel, visivelmente compenetrado na conversa com a pessoa do outro lado da linha. Decidi dirigir-me para a porta de saída.

- Espera!



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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