- Já vais embora?
- Sim, tia. Olha, quero levar estes dois bolos - disse, colocando-me mesmo em frente à montra.
- Parece que sou adivinha. Já os tinha guardado para ti - fez uma pausa, enquanto os colocava na caixa. Entregou-ma e afirmou - Ele ontem perguntou por ti.
- Quem?
- Tu sabes quem. Ninguém aqui é cego. Perguntou se eu sabia porque não tinhas aparecido aqui nos últimos dias.
- E tu?
- Disse que provavelmente tinhas ficado a fazer horas extra no trabalho.
- Está bem. Fez mais alguma pergunta?
- Eu disse-lhe que trabalhavas aqui perto, mas não soube-lhe dizer exactamente aquilo que fazes...
- Vocês então estiveram a conversar.
- Foi mais um monólogo. Eu falei e ele ouviu.
- Só espero que não tenhas falado demais.
- Sobre o quê? Querida, as coisas que eu sei sobre ti: és minha sobrinha, vives com uma colega que passa mais tempo fora do que em casa, vens cá duas vezes por dia, porque trabalhas aqui perto e estás interessada no jeitoso, mas tímido, aqui do sítio. Será que há alguém que saiba mais alguma coisa sobre ti?
Não resisti e olhei para a mesa dele. O Desconhecido estava ao telemóvel, visivelmente compenetrado na conversa com a pessoa do outro lado da linha. Decidi dirigir-me para a porta de saída.
- Espera!