- Espera, Ana!
Era o meu nome pronunciado. Aquele chamamento era para mim, vindo da parte dele.
- Olá! - disse, quando se aproximou de mim. Tinha largado o telemóvel e levantou-se apressadamente para impedir a minha fuga. - Posso-te convidar a ficares mais um pouco?
Apesar de já ter revisto esta situação na minha mente vezes sem conta, diria que estava surpresa, boquiaberta mesmo. Vazia de palavras, apenas abanei a cabeça afirmativamente e acompanhei-o até à mesa. De repente, todas as pessoas, todo aquele espaço se tinha reduzido a nós os dois e àquela mesa do canto.
- Desculpa esta bagunça, mas o trabalho persegue-me. Ou sou eu que o persigo... - disse, baixando o ecrã do computador portátil e empilhando os papéis de forma aleatória em cima de uma cadeira - Para onde quer que vá. há papelada a olhar para mim - continuou - Não é muito bom sinal, pois não?
- Pois... Acho que depende daquilo que fazemos e se gostamos realmente disso - lancei a típica frase de fazer conversa.
- Sim e gosto muito. Eu e o meu irmão - quer dizer, o meu meio-irmão - somos sócios de uma empresa de criação e gestão de sites entre outras coisas. Eu sou responsável por esta parte principal e ele trata das coisas comerciais.
- Parece interessante...
- A tua empresa tem site? Hoje em dia isso é fundamental.
- A minha empresa?! - soltei um ligeiro sorriso de ironia - Sim, a empresa onde trabalho já tem site. Teria de ter, até porque o seu mercado é 80 a 90 por cento internacional.
- Sabes que as pessoas - algumas pessoas - ainda ficam muito relutantes quando se fala desta situação. Mas caminhamos cada vez mais para uma sociedade virtual e cada vez mais somos individualistas, ou seja, se não for preciso sair de casa para comprar determinadas coisas, assim o faremos...
O meu telemóvel tocou. Fosse quem fosse, tinha-me salvo de uma palestra pró-tecnologia.
- Ana, estou de volta, amiga - disse-me a voz feminina do outro lado da linha, bastante efusiva.
Pedi-lhe desculpa pela interrupção, mesmo sem ter sido sincera, e levantei-me para falar com a Beatriz.
- Já estás em casa? Porque não me disseste nada? Tinha-te ido buscar ao aeroporto.
- Pois, não te queria incomodar, mas teve que ser. Quero entrar em casa, mas não sei onde pus as chaves...