Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 13:37

Seg, 16/03/09

Sexta-feira, na maioria das vezes, era sinónimo de reuniões entre as chefias dos vários departamentos. Era necessário verificar a eficácia dos novos funcionários, os resultados dos restantes, se as alterações dos procedimentos (aka burocracias) estavam a ter valores positivos, o balanço final das encomendas, entre outras coisas.

Raramente sexta-feira terminava às cinco e meia da tarde. Efectivamente eram quase sete e eu ainda estava a braços com uma encomenda, que não tinha tecido suficiente para ser terminada, porque a responsável de compras esqueceu-se de comprar. Isto era inadmissível e acho que justificava o despedimento, não visse que o facto de ter uma nova pessoa ali implicava formação, o que nos fazia perder ainda mais tempo, numa altura em que as encomendas eram consideráveis.

Há mais de um ano atrás, quando aceitei o emprego, tinha consciência das enormes responsabilidades, porém não imaginei que fossem acompanhadas por tantas dores de cabeça...

Estacionei o meu carro perto do prédio onde morava. Ficou a poucos metros da entrada principal, suficientes para respirar fundo quando vislumbrei a presença do Miguel, sentado nos degraus.

- Não tínhamos nada combinado, pois não? - perguntei, sabendo de antemão a resposta.

- Não. Mas não te vi no café e vim até tua casa.

- Então esperaste muito. São quase oito horas!

Acabamos por dar ordem de produção à tal encomenda dentro das possibilidades da empresa, tendo a restante sido cancelada pelo cliente. Só esperava que não tivesse sido a última vez que ele nos tivesse contactado...

- Telefonei por duas vezes para o teu trabalho, até que desta última me disseram que tinhas acabado de sair.

- Está bem, então. Vamos subir e encomendar qualquer coisa para comer. Estou faminta. - afirmei.

Fui directa para a sala, onde larguei o casaco, a carteira de pele preta, tirei os sapatos de tacão e me refastelei no sofá, ignorando qualquer comentário até sentir que estava finalmente a ter o descanso merecido.

Ouvi uns murmúrios ao fundo como ingredientes a colocar numa pizza e voltei as minhas atenções para o meu amoroso gato, que roçava a sua cabeça no meu braço direito.

- Daqui a menos de meia hora, vêm-nos trazer a comida - disse o Miguel, depois de se sentar ao meu lado e começar a massajar as minhas costas. - Estás com ar cansado.

- É assim tão óbvio?! - disse, lacónica. A paciência para aturar declarações tão evidentes era diminuta. - Quando chegaste, tocaste à campainha?

- Toquei, mas ninguém respondeu. Porquê?

- Então, a Beatriz já não estava em casa - considerei, mais para mim, do que como contribuição para a conversa.

- Também imaginei que não. Ficaste com ar preocupado. Passa-se alguma coisa?

Encolhi os ombros e expressei um ar de indiferença, que não era verdadeiro.




df @ 14:10

Qui, 12/03/09

Ao final da tarde de quinta-feira recebi uma mensagem por parte do Miguel, informando-me da reunião com um cliente que se tinha prolongado e portanto não nos íriamos encontrar. Nada mais. Sucinto e frio, pensei.

Tentei ignorar os meus pensamentos postos nele e decidi libertar toda a minha frustração numa ida ao ginásio, constantemente descurado. Estive uma hora numa actividade chamada 'fitboxe', que respondia exactamente às minhas necessidade. O banho foi refrescante para o corpo e para a mente.

Estava a tentar não analisar esta situação com o Miguel. Viver um dia de cada vez e depois logo se constataria o resultado deste envolvimento.

Lembro-me como tinha sido com o Márcio. Conhecemo-nos através de contactos em comum e não foi preciso muito tempo para encetarmos uma relação séria, mas secreta. Não entendia o porquê desta exigência, mas às vezes até sabia melhor. Porém, mais de seis meses para mim era suficiente para estes encobrimentos, para estas mentiras, especialmente a pessoas que já me acompanhavam há já alguns anos, como as primas Verónica e Beatriz. Prezava bastante a amizade delas para permitir que isto se prolongasse por mais tempo. Comecei a fazer uma ligeira pressão sobre o Márcio, resultando por vezes em indiferença ou pior em discussão. Quando finalmente ganhei coragem para o enfrentar, descobri o motivo do segredo. A dor perante a descoberta foi tal, que a Beatriz acabou por partilhar comigo esta situação, até hoje fechada a sete chaves nas nossas mentes.

Já não pensava muito no Márcio, apesar de não poder ignorar o facto de ele ter feito parte da minha vida e me ter enviado para o mundo da desconfiança, do medo das relações, do receio da entrega. Isso devia tudo a ele. Podia-lhe ser grata por me ter moldado deste forma.

 

Porém, o Miguel parecia ser diferente. Parecia...

 

O cansaço de me fechar naquela redoma de sofrimento tinha sido o impulso para ter tomado a iniciativa de me apresentar àquele desconhecido de olhos verdes. Mas... Na minha mente havia sempre um 'mas', sempre disposto a duvidar de tudo e de todos, excepto das minhas amigas. 

 




df @ 13:51

Qua, 11/03/09

Depois de saborearmos o café, sentados lado a lado timidamente no sofá, ajudou-me a arrumar as coisas para a cozinha. Fazia lembrar aqueles casais... Não, esquece, não fazia lembrar nada!

- Sabes quando foi a primeira vez que te vi? Foi em Setembro de 2007. - afirmou, encostado à parede.

- Mas ainda nem sequer trabalhava...

- Pois... Fiquei a pensar como se podia gostar de uma pessoa que nem sequer se conhece, especialmente porque não acredito em amor á primeira vista - confessou. - Mas passado um mês, ou algo do género, começaste a ir com frequência ao café da D. Celeste, tua tia, como descobri mais tarde.

- A sério?! - sentia-me encabulada por tal atenção e mantive-me virada para a banca, fingindo que lavava a louça.

- Quando finalmente tomei coragem de falar contigo, tive uns problemas familiares e comecei a hesitar até que desisti de me ir apresentar. Passado uns tempos, voltei a ter vontade de te conhecer, mas deixaste de aparecer no café. Pensei que estivesses assoberbada de trabalho, mas os boatos começaram a correr, até que confirmei com a tua tia que tinhas partido o pé.

- É verdade - acabei por me virar para ele - Foram semanas insuportáveis. A minha mãe queria que eu fosse para Bragança, imagina...

- Depois, pela segunda vez, duvidei se seria capaz de tomar a iniciativa e quando voltaste simplesmente consolei-me por te ver... Pensei que não quisesses nada comigo. Nunca me apercebi se retribuías o olhar...

O telemóvel dele tocou.

- Devias ter desligado isso, Miguel - falei, desagrada pela interrupção.

- Eu sei, desculpa. Venho já.

Voltei costas e concentração para a lavagem da louça, mas estava curiosa quanto à origem e assunto do telefonema. Mas passado poucos minutos, ele apareceu.

- Vou ter que ir embora, Ana.

- O quê?!

- Prometo - começou, enquanto se aproximava de mim - que será a última vez que seremos interrompidos por causa deste assunto. Isto não deveria ter acontecido - desabafou.

- Mas afinal o que se passa? - questionei, não pela curiosidade, mas pela preocupação no olhar dele.

- Eu depois conto-te melhor, mas o que se passa é que a minha mãe, a minha madrasta e os meus irmãos não se entendem quanto à herança que o meu pai deixou. Resumindo é isso. Hoje disse-lhes que não queria ser interrompido, mas estão tão cegos que já perderam o respeito por mim e por eles próprios.

- Vai com calma, Miguel - disse, estupefacta com a revelação. O pai dele devia ter falecido há pouco tempo...

- Não te preocupes - Deu-me um beijo na testa e foi embora.

 

 




df @ 13:17

Ter, 10/03/09

Sentada no exíguo escritório partilhado por um colega, que trabalhava lá há pouco mais de três meses, vi as horas passarem e os problemas a acumularem-se em vez de se resolverem. A preciosidade de quando tudo corre bem é demasiado importante, especialmente por se tratar de um final de dia que se mostra ser essencial para um relacionamento, pautado por desencontros e interrupções.  

- Fiquei surpreso por me convidares a jantar em tua casa.

- Mas não fiques. Saí tarde do trabalho e não deu para ir ao café.

- Está bem, Ana. Posso entrar?

- Claro. Queres uma cerveja? - perguntei, enquanto me dirigia para a cozinha.

- Eu vou buscar. Precisas que te ajude em alguma coisa?

- Não. Vou só tirar o bacalhau do forno e podemos ir para a mesa.

- Vou ver se és boa cozinheira!

- Não tenho tido razões de queixa - sorri para ele.

No pouco tempo que sobrou entre tomar banho, para dissipar toda a frustração de um dia com problemas e reuniões, preparar o jantar e dispensar a companhia da Beatriz, ainda pude colocar a louça guardada para ocasiões especiais e dois candelabros.

Era evidente que há dois dias queria ignorar qualquer sentimento em relação ao Miguel, mas o problema era mesmo esse: já havia sentimentos. Quais? Ainda estavam por decifrar.

- Velas apagadas?! Isso é que não. Tens aí um isqueiro? - perguntou-me à soleira da porta, enquanto me observava.

- Tens aqui nesta gaveta - indiquei.

- Precisas de ajuda? - perguntou novamente.

- Não. Vá vamos para a mesa.

Poucas palavras trocamos, enquanto saboreávamos a comida e um bom vinho branco.

- Estás aprovada! Agora já sei que não passo fome, porque com as minhas capacidades culinárias não vou longe. Frito um ovo e pouco mais...

- Eu dou-te umas lições - retorqui, levantando o copo para brindarmos.

- Prometes?!

 




df @ 12:58

Seg, 09/03/09

Depois do espanto, venho o incómodo.

- Por acaso não atendo, não - respondi.

- Apenas as minhas ou em geral?

- Em geral, mas especificamente as tuas...

- Estás chateada comigo, não é? Isto é por causa de Domingo, certo? O meu irmão bem me disse que era o mais provável...

- Falaste de nós ao teu irmão?

- Vais dizer que não falaste com as tuas amigas...?

- Quer dizer...

- Estás acompanhada? Pelas tuas amigas...

Desviei o olhar para a sala, confirmando a constatação dele.

- Será que vai dar para falarmos?

A assertividade não era o meu forte, porém sentia que podia, talvez, estar a desperdiçar uma boa oportunidade de... me enganar e me magoar novamente, mas só assim se vive...

Depois da apresentação, a Verónica disse:

- Parece que já tens companhia melhor que nós. Só espero que não fiques agora tantos dias, como é costume teu, sem dares notícias!

- Já chega, Verónica, já deste sermões que cheguem à rapariga por hoje - defendeu a Sónia.

Ouvi a porta bater e sem saber exactamente como reagir à presença do Miguel, peguei nas chávenas, que ainda continham vestígios de chá, coloquei-as no tabuleiro e comecei a dirigir-me para a cozinha.

- Queres beber alguma coisa? Ainda devo ter aí algum chá.

- Por mais que possa gostar de chá, quero mesmo é que pares para podermos conversar.

- Está bem. Fala então.

- Não precisas ser tão fria, Ana. Ontem, não me apercebi que realmente pudesses estar chateada comigo por não te ter telefonado...

- Mas não fiquei - respondi, pegando novamente no tabuleiro que tinha pousado em cima da mesa da cozinha e levei-o para a banca. - Passamos uma boa noite juntos, nada mais.

- Para ti significou tão pouco?

- O que queres que te diga? - retorqui, virando-me para ele. - Tu não precisas de te chatear muito por uma mulher, Miguel. Uns dias antes de nos conhecermos, encontraste-te com duas mulheres, DUAS! Ontem mesmo, uma delas apareceu-me à tua procura! Porque é que estás tão preocupada se estou chateada ou não?

- Eram as minhas irmãs, tonta! - falou, soltando uma pequena gargalhada. Aproximou-se de mim e acariciou-me a cara.

Senti-me envergonhada e incapaz de continuar aquela conversa.

- Já é tarde, Miguel, é melhor ires embora.

- É, talvez tenhas razão. Podemos falar amanhã no café ou aqui em tua casa.

- Sim, pode ser.

Saiu, sem tentar me beijar, antecipando sem duvida a desconforto que eu sentira depois de tal afirmação...

 

 



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

Pesquisa
 
Contacto
Mail:
contosepontos@sapo.pt
Março 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
13
14

15
18
20
21

22
24
26
28

29
30
31


No baú...
2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


Comentários recentes
Olá obrigada por me adiconares. Gostei mto de ler ...
http://asnossaspalavrasperdidas.blogs.sapo.pt/Novo...
Obrigado pelos elogios.Volta sempre!Quanto ao próx...
Há uns tempos que aqui não vinha . . . nem aqui ne...
Muito bonitas as tuas palavras...também sou uma ra...
Posts mais comentados
3 comentários
2 comentários
2 comentários
subscrever feeds
blogs SAPO