Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 13:33

Qua, 29/04/09

Chegámos à igreja uns minutos antes da hora marcada. Várias pessoas já se encontravam no adro e outras no interior.

A minha mãe preteriu a companhia da Noémia à minha no carro funerário e, portanto, segui atrás no meu Ford Focus. Estacionei o mais rápido possível para poder aproximar-me da dona Lurdes e dar-lhe todo o apoio necessário naquele momento tão doloroso para ela. Para mim, talvez fosse o fecho de um ciclo...

Mas ela não me permitiu ocupar o lugar ao seu lado, o que não objectei e sentei-me no banco de trás. No final da cerimónia emocionada, fomos para o cemitério.

Mas não foi um situação fácil. O simples facto de descer o caixão com uma pessoa lá dentro era assustador e redutor. Toda uma vida inteira a lutar para ser feliz de uma maneira ou de outra, para se terminar assim, como uma imagem fugaz de alguém que representara tanto para tantas pessoas...

Apesar de todos os sentimentos negativos relativos ao meu pai, fui incapaz de não chorar. Tinham sido realmente poucos os momentos em que me sentira bem ao seu lado, mas não deixava de ser o meu pai, aquela figura para a qual almejamos ser o orgulho, apesar de ser infrutífero.

Eu tinha-me afastado um pouco da multidão, que desejava se despedir dele. Tentei passar despercebida ali, mas não foi possível.

A minha mãe empurrou todas as pessoas que considerava um obstáculo para chegar até mim e com os olhos carregados de amargura, gritou:

- Não admito que chores, minha ingrata. A culpa é toda tua. Se não tivesses fugido e nos roubado, a saúde do teu pai não tinha piorado tanto. Disso podes ter a certeza.

Os rostos das pessoas rapidamente preferiram testemunhar aquele desacato.

Mas eu não fui capaz de tecer qualquer comentário. Ela decerto teria razão. E por mais que eu considerasse que tinha agido bem, para o bem da minha sanidade mental, não deixava de sentir vergonha. Eu tinha tomado uma decisão não pensando nas consequências, tinha sido egoísta, tinha fugido que nem uma cobarde, incapaz de enfrentar o responsável pela minha infelicidade.

Baixei a cabeça, aceitando a acusação, recuando de costas, para depois de me virar para a saída do cemitério, a passo acelerado.

O meu lugar já não era ali. Para todos os efeitos, não pertencia a lado nenhum, porque mesmo a minha vida na Maia eram os restos do meu casamento com o Tiago...

- Espera, Diana! - pediu o Ricardo, impedindo-me de abrir a porta do carro - Vais embora assim?

- Não estou a fazer nada aqui, Ricardo. Ouve-me, tu ouviste as palavras da minha mãe. Deixei de ser vítima do meu pai há muito tempo. Não passo de uma ladra que fugiu. Eu refiz a minha vida noutro sítio, isto aqui já não me diz nada. - Pousei a mão no braço dele e disse - Tens que me deixar ir.

Ele afastou-se contrariado e eu arranquei com o carro, em direcção à minha vazia vida!

 

   




df @ 17:26

Sab, 25/04/09

- Não estou a interromper nada, pois não? - perguntou, o seu rosto avermelhado a transparecer mais curiosidade do que preocupação.

- Que ideia, senhor Augusto. Diga. Precisa de alguma coisa? - falei, levantando-me, não me apercebendo que a minha estatura era mais alta do que o seu simples metro e meio.

- Era só para lhes dizer que a missa está marcada para daqui a pouco, às cinco horas.

- Está bem. Obrigado por estar a tratar de tudo.

- A sua mãe, como é de esperar, ainda está muito devastada com isto tudo. Apesar dos problemas de saúde, ninguém esperava que... Você entende... - Senti que ele respirava com dificuldade, talvez por se recordar constantemente que tinha perdido um amigo. - O seu pai tinha os seus defeitos, era muito mandão, muito crítico, muito exigente com ele mesmo e com os outros, mas tinha um sentido de humor fantástico e mais para o fim, revelou ter um coração de ouro.

Tentei ignorar as qualidades, porque eu própria já só me lembrava dos maus momentos que tinha passado com ele...

Coloquei a mão no ombro do velhote e comecei a indicar-lhe o interior da casa, para a qual nos fomos dirigindo. O Ricardo foi-nos acompanhando mais atrás, introspectivo.

- Mais uma vez agradeço-lhe tudo o que tem feito por nós. Sou-lhe sincera, não conheci a faceta generosa de que todos falam, mas o meu pai realmente alguma coisa de bom deve ter feito, senão não entravam e saíam pessoas a toda a hora.

O senhor Augusto anuiu e despediu-se de mim por momentos, para ir ter com a sua esposa, ainda mais baixa que ele.

Reuni todas as minhas forças e fui até ao sofá de tecido creme, onde a minha mãe tinha feito tenda. Só tinha saído dali, para dormir na sua cama vazia, depois de tentar contrair o efeito do comprimido e para almoçar, por insistência da Noémia, na mesa da cozinha.

Sentei-me no lugar vazio, oposto à mãe do Ricardo e do Renato, e coloquei a minha mão em cima da dela, a pele mais enrugada que nunca. Parecia que em apenas um dia, o envelhecimento tinha sido acelerado e os seus cinquenta e oito anos estavam longe de estarem ali retratados.

Com alguma resistência, a minha mãe encostou a sua cabeça no meu ombro e mais uma vez chorou, um rio de lágrimas a caírem-lhe pela face. Mas aquele momento foi parco. Minutos depois, as suas atenções viraram-se para mais um casal que lhe tinha vindo dar as condolências e para uma conversa tímida com a Noémia.

 




df @ 13:11

Sex, 24/04/09

Num acto de loucura e sob os efeitos da paixão, tinha-me casado três anos depois de me encontrar em Lisboa, um ano depois de ter conhecido o Tiago.

A cerimónia pelo registo civil tinha sido testemunhada por amigos nossos na capital e os meus pais tiveram conhecimento do facto depois nessa mesma noite, quando eu lhes telefonei, já sob o efeito do álcool, tal era a minha felicidade na altura.

Um tempo depois, o Tiago cansou-se da sua aventura por Lisboa e decidiu regressar ao Norte, concretamente à tua terra natal: Maia.

Nos primeiros meses ficámos a viver com os pais dele, que não tinham feitio fácil e continuavam magoados com ele, por não lhes ter contado com a devida antecedência sobre o casamento, concluindo antecipadamente que eu estaria grávida.

Os anos seguintes trouxeram a aquisição de uma casa perto do centro da Maia e a abertura de uma sapataria. Tornámo.nos sócios na cama e nos negócios. Porém, eu era a responsável pelo seu sucesso e ele pela logística, com os seus conhecimentos de comercial numa empresa de publicidade, em Matosinhos.

- Já não vivemos juntos há mais de dois meses, altura em que decidimos pôr um fim na nossa relação.

- Ainda estiveram casados algum tempo... - concluiu.

- Sim, mais ou menos quatro anos - confirmei. - Os últimos meses do nosso casamento foram maus. Ora discutíamos ora passávamos dias sem nos falarmos. Depois de uma longa conversa, optamos pelo divórcio. Continuou como sócio na loja, mas a casa ficou para mim.

- Vocês ainda se falam então...

- Sim, decidimos ficar amigos, nem que seja pelos negócios, que é o meu único sustento.

- Então... então isso ainda tem volta - a voz dele não pareceu mais que um murmúrio.

 




df @ 11:22

Qui, 23/04/09

... ouvir esta música fantástica da Alanis Morrissette, do seu álbum Jagged Little Pill, uma música escondida.

 

 

 


sinto-me: saudosa!
Temas:


df @ 15:42

Ter, 21/04/09

A manhã decorreu com os berros histéricos da minha mãe ao acordar na sua cama vazia e prolongaram-se com a constatação real dos factos: estava viúva. Estava sem aquele homem que sempre fizera parte da sua vida, estava sem aquele homem que lhe dera uma filha, estava sem aquele homem que não permitia que a sua vida entrasse em rotina, fosse pelos seus momentos de extrema felicidade fosse pelos seus momentos alienados, em que... Era difícil recordar isso.

O almoço foi feito em silêncio. Eu, a minha mãe, a Noémia, o marido dela, o Abílio, e o irmão do Ricardo, o Renato. Eram agora a família da dona Lurdes. Sim, porque desde que eu me afastara - se é que essa palavra seria adequada - deixara de fazer parte desse núcleo.

Sentia-me portanto só naquele espectáculo triste, com demasiados participantes. A dado momento, dei por mim a ansiar ver o único rosto, que por mais que não aceitasse as minhas atitudes, pelo menos compreendi-as.

O Ricardo tinha sido, desde que me recordava, o meu único ombro amigo, o meu confidente, o meu parceiro nas diabruras, mas ele também era o motivo (ou um dos) pelo qual o meu pai achava que me devia castigar.

Foi, portanto, confuso, para mim, quando ele me disse que o senhor Bernardino o tinha ajudado a ultrapassar  diversos obstáculos nos últimos tempos. Talvez tivesse sido a sua forma patética de se redimir, quem sabe...

- Ainda bem que já chegaste. Parece que mal consigo respirar aqui dentro, afirmei, pousando a mão direita no meu pescoço.

Estava sentada numa cadeira, longe de todos, tentando-me abstrair daquela situação, mas sem grande sucesso.

Depois de ter dado mais uma vez as devidas condolências à minha mãe e olhado com demora para o cadáver, veio ter comigo.

- Queres ir até lá fora? - perguntou com os olhos visivelmente preocupados.

- Não me sinto com forças para enfrentar isto, Ricardo. Cada vez, as lembranças são maiores e eu...

- Anda! - Pegou na minha mão e conduziu-me até à mesa de jardim, que se encontrava a um metro da piscina, em cima da erva verdejante. - Já comeste?

- Almocei, mas sinceramente não consigo engolir seja o que for... - respondi, enquanto nos sentávamos no banco com um metro de comprimento.

- Acho que já não consegues fingir mais que a morte do teu pai não te afectou em nada... Olha, - falou, cuidadosamente, depois de colocar a mão dele sobre a minha - eu sei que sofreste muito...

- Sabes que não te contava tudo, não sabes?

Encolheu os ombros e prosseguiu:

- Ele não deixava de ser o teu pai e isso é algo difícil de esquecer. Façam o que fizerem, temos sempre essa ligação com eles.

- Não sei - desabafei, deixando cair uma lágrima - Sabes que é demasiado doloroso pensar que às vezes travamos guerras sem sentido quando a vida é tão curta e a morta certa. Perde-se tempo com brigas insignificantes para depois ficarmos apenas com um vazio cá dentro.

- Já não estás a falar só da tua relação com o teu pai...

- Não... - esbocei um pequeno sorriso irónico - Sabes que fui casada...

- Que és casada - corrigiu ele.

 



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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