Em vez de demorar pouco mais do que dez minutos a chegar casa, demorei quase trinta.
Revia constantemente a mesa com cinco pessoas estranhas, mais um meramente conhecido. Não devia ter dado asas à minha imaginação, às minhas necessidades de sentir um pouco de amor e afecto masculino.
Decidi mergulhar a minha dor na profundidade de um uísque de quinze anos, que mantinha em cima do pequeno móvel da sala como bar.
Descalça, de copo na mão, abri a porta do meu apartamento, sem a preocupação de reparar quem me procurava.
- O que estás a fazer aqui? - berrei, ao vê-lo entrar furiosamente pela sala.
Fechei a porta e segui-o.
- Vim aqui só para te dizer uma coisa.
- Não preciso...
- Pois não, Ana, tu não precisas de nada, nem de ninguém. Pareces ser auto-suficiente - gritou. Esperou uns meros segundos e recomeçou o ataque, agora mais calmo, mais mordaz, mais sarcástico - Tens um grave problema, Ana. Tens problemas de confiança, querida. Eu não tinha motivos e continuo a não tê-los para te mentir, especialmente depois de te ter dito que te amava. Sim, em menos de uma semana apaixonei-me por ti. Só que TU é que te mostraste ser uma pessoa diferente. Parecias ser uma pessoa calma, com o dom de não tirar conclusões precipitadas, ou pelo menos com a capacidade de dar uma segunda oportunidade da pessoa que acabou de meter o pé na poça, de se explicar. Só que hoje, querida, - baixou consideravelmente o tom de voz, aproximou-se de mim e apontou-me o dedo indicador esquerdo à cara - não fiz nada de errado. Jantei com a minha mãe, ela apresentou-me, naquele mesmo café, o seu novo namorado, que conheceu nas danças de salão. Estivemos um pedaço na conversa, até que entretanto apareceu o meu irmão, com a namorada e mais uns amigos. Quando tu chegaste, a minha mãe tinha acabado de sair. Espero que estejas bem satisfeita por teres conseguido afastar uma pessoa que te amava de verdade.
Desviou-se de mim e saiu da minha casa.