Demorei mais do que seria habitual, mas não era fácil passar na Via Norte em hora de trânsito compacto e na VCI. Depois de atravessar a Ponte do Freixo, dirigi-me então para casa da minha mãe em Pedroso, Vila Nova de Gaia.
Entre ruas e vielas, algumas de paralelo, outras de terra, poucas de alcatrão, parecia que entrava noutro mundo. O lugarejo onde os meus pais viviam e onde decorreu a maior parte da minha vida era caracterizado por muitas casas antigas, revestidas por pedra ou granito, algumas em condições pouco habitáveis. O pinhal atrás do grande casarão dos meus pais tinha desaparecido para dar lugar a alguns edifícios de três ou quatro andares, de luxo excessivo para aquela localização.
Permanecia com ar de aldeia, lugar perdido e esquecido numa cidade em constante desenvolvimento.
As pessoas mantinham o seu aspecto rude, a sua ligação às tradições e costumes. Os Domingos eram para ir à missa com as suas melhores roupas, para em seguida se almoçar com a família. Os mexericos eram algo permanente e a decoração humana à janela habitual. Mas quando eram para se unir na dor, todos se entreajudavam, uns numa perspectiva amiga, outros simplesmente para se inteirarem do sofrimento alheio.
Fosse qual fosse, a casa começava a encher-se de pessoas, vestidas de cores sóbrias.
Eu tinha-me esquecido de trocar de roupa, porém ainda assim era adequada à altura: umas calças de ganga pretas justas à pele, botas de veludo escuro à cavaleira, uma blusa de igual cor, com uma camisola cinza de algodão, com decote em V.
O pequeno portão branco estava aberto. Respirei fundo, preparando-me para (re)ver todos aqueles rostos que já me eram estranhos e para enfrentar a minha mãe.