A sala estava com as luzes acesas, mas parecia não ser suficiente para visualizar os rostos das pessoas afectadas com aquela perda.
Senti uma mão no braço, fazendo-me parar naquela contemplação negra. Virei-me e vi os olhos cheios de lágrimas da mulher de cabelos grisalhos e pele enrugada. Era uma daquelas muitas vizinhas da minha mãe. Não me lembrava do nome dela.
- Ainda bem que apareceu. Lamento muito a vossa perda. O seu pai era um homem muito bondoso - Tocou-me novamente no braço, num gesto maternal.
Sacudi a mão dela e disse:
- Não se preocupe, porque eu não lamento. Eu não lamento a morte dele. - repeti - Com licença, vou ter com a minha mãe.
Passei entre várias pessoas, que permaneciam em pé, em grupos, com os seus rostos igualmente desolados, tristes, melancólicos, marcados pela sofrimento de alguém próximos, cabeças cabisbaixas.
A minha mãe estava sentada no sofá, acompanhada pela vizinha Noémia, desespero estampado estampado na cara, lágrimas secas cravadas na pele, olhos descaídos e o cabelo desgrenhado, sem vestígio da sua constante permanente.
- Mãe, estou aqui. Vim logo que pude - Agachei-me e toquei-lhe na sua mão gélida.
- Foi preciso acontecer isto para voltares a pôr os pés nesta casa - acusou, quase inaudível.
- Mãe, se quiseres, posso-me ir embora...
- Claro, egoísta como sempre, Diana. Nem sequer és capaz de mostrar algum sentimento, filha. Foi o teu pai que morreu, o homem que sempre cuidou de ti com tanto amor e carinho.
- Que grande mentira, mãe, e tu sabes isso perfeitamente - ripostei, tentando manter a voz baixa, para não atrais ainda mais a atenção para nós.
- Lamento muito a tua perda, Diana. - disse uma voz masculina. Era-me tão familiar!
Levantei-me e enfrentei-o.
- O teu pai ajudou-me a ultrapassar diversas dificuldades...
- Porque raio toda a gente fala do meu pai como excelente pessoa? Parece que falamos de outro homem. Ele não passou de um homem violento, conservador e manipulador - berrei,já cansada de toda aquela mediocridade e hipocrisia.