Chegámos à igreja uns minutos antes da hora marcada. Várias pessoas já se encontravam no adro e outras no interior.
A minha mãe preteriu a companhia da Noémia à minha no carro funerário e, portanto, segui atrás no meu Ford Focus. Estacionei o mais rápido possível para poder aproximar-me da dona Lurdes e dar-lhe todo o apoio necessário naquele momento tão doloroso para ela. Para mim, talvez fosse o fecho de um ciclo...
Mas ela não me permitiu ocupar o lugar ao seu lado, o que não objectei e sentei-me no banco de trás. No final da cerimónia emocionada, fomos para o cemitério.
Mas não foi um situação fácil. O simples facto de descer o caixão com uma pessoa lá dentro era assustador e redutor. Toda uma vida inteira a lutar para ser feliz de uma maneira ou de outra, para se terminar assim, como uma imagem fugaz de alguém que representara tanto para tantas pessoas...
Apesar de todos os sentimentos negativos relativos ao meu pai, fui incapaz de não chorar. Tinham sido realmente poucos os momentos em que me sentira bem ao seu lado, mas não deixava de ser o meu pai, aquela figura para a qual almejamos ser o orgulho, apesar de ser infrutífero.
Eu tinha-me afastado um pouco da multidão, que desejava se despedir dele. Tentei passar despercebida ali, mas não foi possível.
A minha mãe empurrou todas as pessoas que considerava um obstáculo para chegar até mim e com os olhos carregados de amargura, gritou:
- Não admito que chores, minha ingrata. A culpa é toda tua. Se não tivesses fugido e nos roubado, a saúde do teu pai não tinha piorado tanto. Disso podes ter a certeza.
Os rostos das pessoas rapidamente preferiram testemunhar aquele desacato.
Mas eu não fui capaz de tecer qualquer comentário. Ela decerto teria razão. E por mais que eu considerasse que tinha agido bem, para o bem da minha sanidade mental, não deixava de sentir vergonha. Eu tinha tomado uma decisão não pensando nas consequências, tinha sido egoísta, tinha fugido que nem uma cobarde, incapaz de enfrentar o responsável pela minha infelicidade.
Baixei a cabeça, aceitando a acusação, recuando de costas, para depois de me virar para a saída do cemitério, a passo acelerado.
O meu lugar já não era ali. Para todos os efeitos, não pertencia a lado nenhum, porque mesmo a minha vida na Maia eram os restos do meu casamento com o Tiago...
- Espera, Diana! - pediu o Ricardo, impedindo-me de abrir a porta do carro - Vais embora assim?
- Não estou a fazer nada aqui, Ricardo. Ouve-me, tu ouviste as palavras da minha mãe. Deixei de ser vítima do meu pai há muito tempo. Não passo de uma ladra que fugiu. Eu refiz a minha vida noutro sítio, isto aqui já não me diz nada. - Pousei a mão no braço dele e disse - Tens que me deixar ir.
Ele afastou-se contrariado e eu arranquei com o carro, em direcção à minha vazia vida!