- O quê? Não podes estar a falar a sério, Diana. Tu não me podes mandar embora da minha casa.
- Se fosses bem-educado, Tiago, nem precisava de te responder que esta casa já não é tua e que eu te pedi educadamente para saíres - retorqui, calmamente, apesar de estar a sentir-me incomodada com aquela contínua demonstração de posse.
O Tiago encontrava-se agora de costas para o Ricardo, enfrentando-me, o seu rosto irado, capaz de cometer uma loucura. Deixara há muito tempo de me intimidar com esse tipo de coisas. Depois de passar pelo que passei, tornara-me um pouco mais forte.
Agarrei-o pela mão e encaminhei-o até à saída.
- Depois telefono-te, Tiago.
- Ainda hoje?
- Porra, Tiago, pára com isso - respondi exasperada, mas quase num sussurro. - Sabes perfeitamente que acabou tudo entre nós. Não nos entendíamos enquanto estávamos casados, achas que agora seria melhor?
- Talvez não. Mas isso não implica que não continue a tentar alguma coisa. Sabes perfeitamente que gosto de ti.
- Tudo bem, Tiago, mas este não é o momento mais adequado para isto. Fazemos o seguinte: durante a próxima semana combinámos qualquer coisa e se der, voltamos a falar sobre isto, pode ser? Mas agora tens mesmo que te ir embora.
Talvez estivesse a dar-lhe falsas esperanças ou talvez não.
Agora que pensava que começava uma nova fase na minha vida, o Ricardo reaparecia para complicar as coisas. Ele tinha sido a pessoas mais importante para mim, desde sempre o fora, por isso talvez tenha sido tão difícil tomar a decisão de o deixar nos dois anos antes da minha fuga...
Regressei à sala, onde o Ricardo perscrutava os meus objectos de decoração em cima da mobília. Eram coisas fúteis, acompanhadas por fotografias de amigos que deixara em Lisboa e outras ainda apenas comigo e com o Tiago. Ainda não tivera força suficiente para fechar esse capítulo, apesar do Tiago já não viver ali e o divórcio realmente estar quase finalizado.
- Como é que descobriste onde eu morava? - perguntei na soleira da porta.
Ele olhou-me surpreendido, como um menino que tinha acabado de ser descoberto a fazer algo que não devia.
- Estivemos a arrumar umas coisas no escritório do teu pai e ele tinha lá a morada da tua loja e aqui da tua casa. Como não me deixaste nenhum número e voltaste a fugir pela segunda vez, decidi arriscar vir cá.
- Pois, mas como deves ter reparado não é a melhor altura...
- Para ti, nunca é a melhor altura, Diana - em dois passos, aproximou-se de mim - Antes tinhas tempo para nós, agora pareces uma pessoa diferente, mais egoísta...
- Não, Ricardo, não te admito. - aumentei um pouco o tom de voz - Tu deverias ser a última pessoa a dizeres-me isso. Depois de tudo o que passei, mereço mais do que ninguém, a ter o meu espaço, a poder tomar as minhas decisões, a ser como realmente sou!
- Tens razão, Diana, eu nem sequer vim cá para te fazer qualquer acusação - Voltou-me as costas e sentou-se no sofá, colocando o cobertor num dos lugares vazios. - Vim cá para perceber o que se passou. Quero que me expliques o que a tua mãe disse no funeral e porque omitiste isso da carta que me deixaste quando te foste embora.