Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 20:45

Qua, 29/07/09

Olhei o céu estrelado e expeli o fumo do cigarro, que tinha acabado de acender.

Aquele maço já morava há praticamente uma semana na minha carteira e apesar de não sentir necessidade da nicotina diariamente, transformava aquele preciso momento numa situação de suposta serenidade.

A noite estava amena e sossegada. Quase não se via vivalma na rua. Tudo estava a dormir. As luzes iluminavam os passeios, os carros e os gatos vadios.

O relógio digital da mesa-de-cabeceira marcava quatro da manhã quando acordei e decidi ir para a varanda. Sentei-me na cadeira e gozei da minha própria infelicidade. Só me conseguia lamentar e cismar nos problemas que tinha e voltava, como já era habitual nos últimos meses, a pensar na hipótese de voltar para Lisboa, o único local onde me tinha sentido realmente feliz.

Tornei a sentir vontade de chorar e não me fiz de rogada, deixando que toda a dor que sentia e que provocava um constante desconforto no estômago extravazasse.

Apenas por volta das sete horas é que regressei ao quarto. Sentia-me cansada, como se tivesse trabalhado mais de doze horas seguidas.

Quando voltei a acordar, já era quase meio-dia. Despi o pijama suado e fui tomar um banho. A água descia pelo meu corpo, retirando todas as impurezas de uma noite mal dormida.

Saí do duche e preprarei-me para enfrentar o espelho. Olhei-me e senti as mazelas que estas duas últimas noite tinham feito no meu rosto. Estava pálido e as olheiras acentuavam-se cada vez mais.

Saí do quarto e reparei que reinava um silêncio quase absoluto. Ouvia-se apenas o leve chilrear do canário avermelhado na sala e um qause pseudo-ruído do televisor.

- Conseguiste dormir alguma coisa? - perguntou a Filipa, ao aperceber-se que me sentia perdida ali no meio do corredor. - O Mário saiu com a Mariana. Foram até ao parque e depois iam até à mãe dele. Deve chegar só lá para a uma, uma e meia. Entretanto vou-te preparar qualquer coisa para comeres.

- Queres que te ajude em alguma coisa?

- Não te preocupes, querida. Vai para a sala, que eu já vou para lá. - passou carinhosamente a mão pelo meu braço e encaminhou-se para a cozinha.

O sofá preto de quatro lugares, mais chaise-longue, estava encostado à parede do lado esquerdo  e uma mesa de cor wengué situava-se mesmo em frente, em cima de um tapete vermelho. A televisão moderna estava em cima de um simples móvel, também de cor negra, a um canto. O outro móvel da sala ocupava parte da parede da direita, onde estavam livros, uma estante para carros de rally de colecção e meia dúzia de peças de decoração combinadas exactamente umas com as outras numas prateleiras.

A Filipa trouxe um tabuleiro com torradas, café e leite e ainda um copo de sumo de laranja natural, que tinha por hábito beber de manhã.

- Já percebeste que há alguma coisa errada... - lancei para o ar, virando-me para ela. A Filipa estava sentada no sofá, com as pernas cruzadas em cima.

- É evidente que estranhei a súbita visita e ainda por cima o facto de vires sozinha. Mas suponho que já te sintas preparada para falar...

- Nem por isso! - Sentei-me ao lado dela e peguei na caneca do leite, misturando um pouco de café. - Eu e o Tiago vamo-nos divorciar.

- Foste directa, Di! - disse, limpando uns requícios da bebida que tinham escorrido pelo queixo, depois de se ter entaldado, perante tal afirmação. Recompôs-se e retorquiu - Já tinha reparado que vocês não andavam bem, mas não pensei que já tivesse chegado a esse ponto.

- Há mais de dois meses que não estamos juntos, mas com a morte do meu pai aproximamo-nos. Mas com isso, voltei a casa, revi o Ricardo e o Tiago começou só a fazer disparates.

- Tanta revelação de uma só vez! Realmente, Diana, só memso tu. Custa-te a começar, mas quando o fazes, as revelações não páram. - ironizou a Filipa, bebendo mais um pouco do sumo. - Conta-me lá isso direitinho.

Resumi o menos que pude, pois a Filipa gostava de todos os pormenores numa boa história de vida.

- Agora vais-me explicar uma coisa, Diana. De qual gostas mais? - perguntou num tom jocoso.

- Isto não é um assunto para brincadeiras, Filipa. Apesar das discussões com o Tiago, nunca tivemos a certeza que a solução seria o divórcio. Mas depois apareceu o Ricardo... É que nunca esteve em causa o amor que eu e o Tiago sentíamos um pelo outro, mas agora...

- Pois, agora... Estás dividida entre dois homens! - exclamou.

- Filipa, não se apaga com facilidade um amor, uma relação de mais de cinco anos e muito menos um amor de infância, como se costuma dizer, qeu eu e o Ricardo tivemos.

- Sim, está certo. Então, diz-me o que te agrada mais nestes dois homens? É que eu não conheço o Ricardo, mas o Tiago sim, e sempre te disse que vocês eram o oposto...

 




df @ 21:05

Ter, 21/07/09

A Filipa tinha-se mudado de um modesto apartamento no centro de Lisboa para um luxuoso no Barreiro. Tinha três quartos espaçosos, um deles para a sua menina de um ano e meio, uma sala ampla, bem decorada e provida de uma excelente luz natural, com duas portas de vidro de correr, que davam acesso a uma varanda, onde tinha uma mesa e duas cadeiras verdes de plástico.

Era a primeira vez que ali estava. Com tantos convites e um tempo demasiado ocupado com os trâmites legais e comerciais da loja,  nunca tinha conseguido encaixar aquela visita na minha agenda. E agora, de repente, tinha sido tão fácil...

Reflectindo no momento em que entrei em casa, reparei que o que me impedira tinha sido o medo de verificar que me tinha arrependido de deixar a minha vida em Lisboa para regressar ao Norte. E, de facto, pensava nisso com frequência, especialmente por no último ano a minha relação com o Tiago ter sido pautada por imensas - demasiadas mesmo - discussões. Porque é que decidira aquilo para a loja? Porque é que optara por aquele produto e não por outro? Porque é que decorara a loja assim? Porque é que gastara tanto dinheiro? Mas acima de tudo: porque é que dedicava tanto tempo à loja em vez de pensar na possibilidade de ter filhos...

Enfim...!

Mas aqueles dias de refúgio serviam como uma fuga a toda esta confusão e, ao mesmo tempo, aproveitava para falar - ou desabafar - com a minha amiga Filipa, que eu tinha conhecido anos antes, depois dela ter trabalhado por breves momentos na empresa onde eu estava, como operadora de call-center.

Tomei um banho rápido e instalei-me no quarto de hóspedes, que tinha apenas a mobília essencial, sem grandes objectos que identificassem o seu uso habitual. A cama de casal tinha uma colcha rendada branca feita pelas mãos calejadas pelo campo da avó do marido da Filipa, o Mário. Os lençóis de um azul-céu límpido, com um padrão indecifrável. Sentei-me e senti a suavidade do fino algodão tocar na minha pele.

- Estás confortável? - perguntou a Filipa encostada à porta da entrada. - Se tiveres frio, tens aqui cobertores. - apontou para o armário e depois sentou-se ao meu lado na cama - Temos muto que conversar, mas deixemos isso para amanhã. Descansa bem, faz de conta que est´+as em tua casa. Amanhã falamos. Boa noite. - Acariciou-me o rosto com as costas da mão esquerda, afagou-me o cabelo castanho claro e saiu.

No momento em que a porta se fechou, encostei-me à cabeceira de carvalho liso e encolhi as pernas, ficando os joelhos à altura do meu peito. As lágrimas que tinham surgido na altura de carinho da Filipa e, que eu tinha reprimido, finalmente cederam perante o quarto estranho e vazio.




df @ 19:27

Sex, 17/07/09

Depois de uma média de três horas de viagem, cheguei a Santa Apolónia, a noite já ia longa.

Olhei pela janela do comboio com saudosismo. Recordava-me perfeitamente da primeira vez que ali tinha chegado. Tinha comigo apenas duas malas de viagem, não muito grandes. As roupas que mais gostava, além das coisas práticas. Algumas coisas tinham ficam no armário do meu antigo quarto e outras tinham ficado reservadas em casa de uma amiga da faculdade, para um dia mais tarde ela mas enviar.

Naquela segunda de manhã, sentira-me tão só. Mais só do que quando vivia com os meus pais. Havia ainda um sentimento amargo no âmago do estômago. Estava finalmente por minha conta. Podia finalmente tomar as minhas próprias decisões, cometer os meus próprios erros, gozar a minha alegria, chorar as minhas tristezas. E ainda assim aquilo de repente pareceu-me tão relativo. Toda aquela luta pela independência parecia tão inútil perante a urgência de um ombro amigo.

Não conhecia ninguém e, apesar de desejar mais do que nunca ter a minha grande amiga da faculdade ou mesmo o Ricardo, não queria que ninguém olhasse para mim, me tocasse... Não queria que conhecessem a história triste da minha vida. Sim, sentia-me só e com pena de mim mesma, como se a culpa fosse toda minha do meu pai ser uma pessoa violenta. E daí talvez fosse, tal como ele dizia, eu era uma rapariga muito má.

Agora naquela noite, naquela estação de comboio, tudo me parecia tão distante e ao mesmo tempo tão necessário para a minha definição como pessoa que era hoje.

Desci para a plataforma e olhei em redor. Não havia muitas pessoas àquela hora e devia ser sempre assim. Tal como a minha vida, aquela estação tinha muita confusão, demasiadas pessoas.

Tentei avistar a Filipa. Ela era uma mulher de estatura mediana, cinco centímetros mais baixa que eu, rosto arredondado, uns olhos castanhos muito profundos e um cabelo encaracolado, que lhe costumava cair pelas costas abaixo, acentuando-lhe a sua sensualidade. Não a via há mais de um ano, apesar de falarmos com frequência pelo telemóvel ou pelo messenger. No entanto, ainda não lhe contara sobre o divórcio. Não tinha sido capaz. Afinal de contas, tinha sido ela a apresentar-me o Tiago.




df @ 11:27

Sab, 11/07/09

Encarei o dia seguinte com pouca energia, mas decidida a enfrentar diversas decisões e a fugir dos meus sentimentos.

Tal como dissera ao Tiago na noite anterior, às dez da manhã, hora de abertura da loja, comecei a pesquisar imobiliárias, para o mais tardar na próxima semana, já ter a sinalética na nossa casa de 'vende-se'.

Depois de um almoço recheado de pouco apetite - a sandes mista que preparei para mim em casa ficou praticamente intacta - esperei que a Adriana, a minha funcionária, chegasse para me fazer companhia e claro para a informar da minha possível ausência nos próximos dias.

- Eu sei que amanhã era o meu dia de trabalho, Dri, mas depois compenso-te. Vou para fora e em princípio vou já hoje ao início da noite.

- Para onde vai? Vai ficar contactável? - perguntou, encostada ao balcão. Era uma miúda de vinte e um anos, que decidira largar os estudos há muito tempo e desde então entrara no mundo do trabalho. Era praticamente da minha altura, um pouco mais forte que eu. Tinha o cabelo pintado de ruivo, uma farta cabeleira encaracolada; os olhos negros como azeitonas sobressaíam na pele clara do rosto. Estava na loja há quase um ano, praticamente desde a sua abertura.

- O meu telemóvel vai estar ligado, mas só atenderei se for daqui da loja, está bem? Se não atender por algum motivo, qualquer dúvida tiras com o Tiago. Se ele não aparecer aqui amanhã, em princípio, segunda ele vem. - respondi.

- E voce? Quando regressa?

- Ainda não sei, mas estou a contar talvez na terça ou na quarta já vir trabalhar. Não te vou dizer para onde vou, porque de certeza o Tiago vai perguntar e apesar de não ser dificil imaginar para onde vou, não quero que ele te interrogue. Tenho completa confiança em tia como sempre tive, Dri, está bem?

- Está tudo bem, Diana? - quesitonou, os seus olhos inocentes transparecendo um misto de preocupação e curiosidade.

- Não me apetece falar sobre isso, Adriana. Vou só fazer uns telefonemas que preciso e daqui a pouco vou-me embora.




DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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