A noite estava fria e o céu pouco estrelado. Muitas nuvens se avizinhavam, para terminarem em chuva.
Foi com este pensamento que atendi a chamada do Tiago.
- Onde estás? - perguntou ele, depois de nos termos cumprimentado. A voz dele transmitia frieza, tipo interrogatório.
- Interrompeste o meu jantar - respondi.
- Pois, mas em casa é que não estás a jantar.
- Não, não estou. Estou num restaurante com o Ricardo.
- E eu aqui à porta de casa à tua espera, preocupado contigo, preocupado em saber como tinham corrido as coisas com a tua mãe, mas tu estás entretida a enfeitar-me a testa. Que corno manso que sou!
- Tiago, não admito que me fales assim - exigi, exasperada com aquelas palavras.
- Ai não? Então como queres que te trate, se em vez de estares com o teu marido, estás com outro homem?
- E lembraste-te disso hoje? E nos últimos dois dias? Que nem um telefonema me deste? Que nem sequer apareceste na loja?
- Tive muito trabalho. Tive reuniões que duraram até tarde.
- Sim, que nem te permitiram ir à casa-de-banho! - exclamei. - Poupa-me dessas lengalengas, Tiago.
- Quero que venhas para casa, Diana.
- O quê? Estás a brincar comigo. Mas desde quando é que te dei autorização para me falares assim? Diz-me! Realmente ainda pensei que podíamos voltar, mas agora não vejo como, Tiago. - desliguei-lhe o telemóvel e comecei a chorar.
Depois de alguns minutos de autocomiseração, decidi entrar para me despedir do Ricardo.
Sentei-me no meu lugar, frente a ele, e tentei não demonstrar aquilo que já era óbvio: dor.
- Vou ter que me ir embora, Ricardo. Desculpa, mas já não estou com disposição para comer seja o que for.. Só quero ir para casa.
- Mas o que se passa afinal? Estás a deixar-me preocupado.
- Não fiques. - respondi, perante o olhar carinhoso.
Depositei-lhe um beijo na face e saí.