Demorei a dar-lhe a resposta. Não por hesitar, mas por achar que não seria aquilo que ele queria ouvir.
- Não, nunca me arrependi. - confessei por fim. - Apesar da situação actual, acho que as coisas nunca poderiam ter sido de outra maneira. O meu pai era possessivo, violento, a minha mãe, por um lado, só queria saber dele e nunca de mim; eles nunca iriam dar, como nunca deram, ouvidos à minha vontade de mudar as coisas. Custou-me ao início. Não conhecia ninguém, não te tinha comigo pela primeira vez... Mas valeu a pena todos os sacríficios que fiz e isso inclui ter-te deixado.
O rosto dele ia ficando cada vez mais com uma expressão triste.
- Mas se me tivesses dito alguma coisa, eu teria vindo contigo. Éramos tudo um para o outro, Diana - sentia-se uma ligeira revolta na voz dele.
- Por sermos tudo um para o outro, Ricardo, eu fiz o que fiz. Tu querias dar aulas e por isso tinhas que terminar o teu curso. Se viesses comigo, isso nunca seria possível. Eu não quis de maneira nenhuma prejudicar-te nesse aspecto. Foi melhor assim. Se te tivesse contado fosse o que fosse, das duas uma, querias vir comigo como acabste de dizer ou tentavas dissuadir-me. Por isso, digo-te mais uma vez que não me arrependi.
- Sabes como fiquei quando recebi a tua carta? - perguntou, ignorando as minhas últimas palavras. Bebeu o último resquício de uísque do copo. - Como fiquei devastado? Tantas promessas que tínhamos feito um ao outro... Tantos anos de dedicação e amor para terminarmos daquela maneira?
- Mas já nem sequer estávamos juntos há mais de um ano, Ricardo. Mandei-te a carta, porque achei que a nossa amizade e o nosso amor mereciam uma explicação.
- Por esse facto, achei que realmente nunca tínhamos terminado. Quantas vezes não tínhamos estado longe um do outro? Voltávamos sempre para os braços um do outro...
- Iludiste-te muito então, Ricardo...
- Eu irrompi pela casa dos teus pais adentro, Diana - afirmou, ignorando mais uma vez o que eu tinha dito. Os seus gestos mostravam um crescente nervosismo.
- O quê?! - perguntei, perplexa.
- Sim. Insultei o teu pai de tudo o que me veio à mente. Disse finalmente tudo o que nunca tivera coragem para dizer naqueles anos todos. Primeiro chamou-me de puto irresponsável e inconsequente. Mas depois de lhe dizer repetidamente que a culpa era só dele por teres fugido, calou-se. - Acalmou-se um pouco e sorriu ligeiramente - Havias de ter visto a cara do teu pai. Estava perplexo. Mas ainda assim nesse dia explusou-me de lá e proibiu-me de voltar lá a entrar. Ao que eu respondi que o único motivo que me levava àquela casa já não ali estava, por isso quem fazia questão de não lá entrar era eu...
- Gostava de ter sido uma mosquinha nesse momemto. E depois?
- Como te disse, a discussão foi muito feia... Os meus pais e a tua mãe ficaram escandalizados... Não tive problemas em dizer ao teu pai que ele tinha destruído as nossas vidas - respirou fundo e continuou - Bem, o certo é que uma semana depois, ele chamou-me a casa dele e levou-me para o pequeno escritório que vocês têm ao fundo.
- Sim...
- Pediu-me... imagina, o teu pai pediu-me... Ele pediu-me para lhe explicar porque é que achávamos que ele tinha sido um mau pai. Quer dizer, disse-lhe o que era óbvio: que bater, fechar a filha na dispensa, tentar controlar todos os seus movimentos e mais alguma coisa não era a melhor educação. Sabes o que ele me respondeu? Que não pedia desculpa por nada, porque continuava a achar que tinha dado a melhor educação à filha, tentando incutir-lhe os mesmos valores que lhe tinham ensinado: responsabilidade, vontade de serr alguém na vida!