Aquele dia tinha sido longo. Extremamente longo.
Depois da curta conversa com a Adriana, o ambiente tornara-se tenso, como se estivéssemos em lados opostos, a lutar pela permanência naquele espaço.
Poderia permanecer ridículo pensar desta forma, mas subitamente o denominador comum - o Tiago - tinha ganho mais força e quase de certeza que ela acharia que chegara o seu momento.
Cheguei a casa, com a sensação de ter sido atropelada por um camião. Estava muito cansada e só me apetecia sentar no sofá, ver um pouco de televisão e saborear uma cerveja bem gelada. Não era costume fazê-lo sozinha, mas tinha que me habituar à falta de presença de outro ser humano naquela casa.
Depois de tomar um banho, decidi telefonar ao Ricardo.
Fui buscar o telemóvel, que ainda permanecia dentro da carteira branca de tecido e que eu tinha deixado atabalhoadamente em cima da mesa de jantar da sala. Procurei o número. O toque de chamada fez-se ouvir. Uma, duas, três vezes.
Por fim, do outro lado da linha, ouvi a voz suave dele.
- Então, como correu o teu dia? - perguntei.
- Bem, nada de novo no mundo do ensino - ironizou.
- Hoje não dá para nos encontrarmos, porque aquela amiga de que te falei, a Raquel, convidou para ir lá jantar... Quer dizer, já lá devia estar... Bem, achei que podíamos jantar juntos amanhã, que dizes?
- Sim, pode ser - acabou por dizer, após alguns segundos em silêncio. A sua voz não parecia muito convicta daquilo que acabara de afirmar.
- Ricardo, não precisamos de estar com meias palavras entre nós - adiantei.
Levantei-me do sofá, ao escutar o toque da campainha.
- Estava a pensar que podíamos ir até Matosinhos - disse ele.
- Sim, é um boa ideia - retorqui.
Enquanto lhe respondia, espreitei pelo orifício da porta da entrada e hesitei em abrir. Até que acabei por rodar a maçaneta.
- Tiago?!
Fiz-lhe sinal com o dedo indicador esquerdo para cima, com o intuito de o obrigar a permanecer ali e voltei para a sala.
- Bem, já percebeste que acabei de receber uma visita indesejada.
- Será assim tanto?! - questionou.
- Ricardo! - exclamei, em forma de protesto pelo comentário. - Se não der para telefonar mais logo, amanhã confirmamos o nosso jantar, está bem?
Praticamente no momento em que ia desligar, o Ricardo falou:
- Diana, se precisares de alguma coisa, diz-me - a sua voz tornara-se quente e carinhosa.
Sim, acima de tudo era meu amigo...
Inspirei bem fundo, interiorizando a necessidade de enfrentar o diálogo/discussão com o Tiago e preparando para mais um desagaste psicológico.