Levantei-me da minha cama fria e solitária. Puxei o lençol e o fino cobertor para trás e fui até à janela. Abri a persiana e olhei o mundo estranho que se me apresentava. Os edifícios amontoavam-se à minha frente. Cimento e betão e um inúmero de pessoas estranhas eram a paisagem do meu dia-a-dia.
Momentaneamente fui atingida por uma enorme tristeza. Derramei uma lágrima inconscientemente. Não queria.. Estava cansada de chorar, de sofrer.
Coloquei a mão no meu ventre e massajei suavemente. Estava grávida de quase cinco meses e somente assim.
Naquele preciso instante, voltava a questionar-me se teria valido a pena lutar contra todas as diferenças, contra todos os conselhos contrários aos nossos desejos.
Quer dizer, no fundo, tínhamos tido momentos felizes, muito felizes mesmo. Mas a pressão tinha sido enorme e nem eu nem ele tínhamos conseguido suprimir todas as discussões, todas as contrariedades, todas as cobranças.
Em pouco menos de dois anos, tínhamo-nos conhecido, namorado, casado e agora íamos ser pais. Mas encontrávamo-nos a mais de cem quilómetros de distância... Física e emocionalmente...
Dirigi-me até à casa-de-banho, onde me despi e tomei um banho. A água quente misturava-se com as minhas lágrimas salgadas. Encostei-me à parede gelada de azulejo cinza claro e fechei os olhos. Tinha tantas recordações e não tinha ninguém com quem as partilhar...
A nossa pequena casa, construída na grande garagem da casa do irmão dele, num pequeno lugarejo de uma aldeia de Resende, era o nosso ninho de amor, onde éramos constantemente invadidos pela presença dos sobrinhos dele, dos irmãos dele, das irmãs, das cunhadas e dos cunhados, dos pais dele... Viviam praticamente numa comunidade, sem entraves à privacidade.
E agora estava sozinha. Não tinha aceite com naturalidade àquela invasão, tendo eu vindo de uma família com apenas três pessoas...