- Ouviste o que eu disse.
- Sim, ouvi, mas parece que não entendi muito bem. - Aproximei-me dele e girei a sua cadeira, fazendo com que o seu corpo ficasse virado para mim. Tu também vais estar presente? A que propósito?
- Não sei, o advogado não me adiantou nada. Só disse que eu tinha de estar lá. Pensei que te tinha dito.
- Mas não disseste. - respondi, sentando-me na cama. - Não estou chateada por isso, porque eu também não te disse que vinha, mas o meu pai tem que fazer sempre das suas mesmo depois de morto!
- Não digas isso - Puxou a cadeira para próximo de mim e pegou-me na mão. - Eu sei que o teu pai te fez, melhor que ninguém eu sei. Mas eu conheci outra faceta dele, uma faceta generosa e compreensiva.
- Ele só foi assim contigo para compensar o mal que me fez.
- Acho que não acreditas nisso. Sabes perfeitamente que ele nunca se arrependeu de te ter educado como educou... Mas não vamos tirar conclusões precipitadas antes de se saber o que está escrito no testamento. - passou a palma da mão esquerda no meu rosto, num acto intencional, demasiado íntimo. Mas retirou-a imediatamente e a sua expressão alterou-se. - Afinal o que querias falar comigo?
- Queria-te falar sobre ontem.
- Explicaste-te, acho que já não há mais nada para dizeres. Fizeste-me fazer figura de palhaço à frente dos meus amigos com a tua reacção. Só isso - Voltou a olhar para o computador.
- Não foi minha intenção, Ricardo. Acredita. Só que estou...
- Já sei, Diana. Estás cansada de falar sobre a tua vida com os teus pais. Mas isso não te dá o direito de fazer o que fizeste. Eu perguntei-te por várias vezes se não te importavas que fôssemos ter com eles. - Voltou o rosto para mim e olhou-se de uma forma, que me gelou. - Eu só queria que tu os conhecesses. Só queria incluir-te de uma forma mais completa na minha vida, mas parece que ainda não estás preparada para isso. Compreendo, mas não desculpo o que fizeste. - fez uma pequena pausa, inspirou e disse - Sabes, parece que afinal não te conheço, o que se calhar é natural, já se passaram alguns anos. As pessoas mudam.
- Mas eu não mudei, Ricardo.
Mas ele não me quis ouvir. Pediu-me que o deixasse sozinho e que se eu quisesse podia voltar para o café, que depois me chamava para irmos os dois juntos para casa dos meus pais.