Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 19:47

Dom, 08/11/09

Nessa noite alterei os planos. Primeiro porque queria evitar o Ricardo e depois porque queria compensar a Raquel pela noite anterior e por ela não ter conseguido ter vindo almoçar comigo.

Depois de falar com o Ricardo, que ficou deveras aborrecido comigo, afirmando que não o queria ver e depois de lhe explicar que precisava de um certo tempo para assentar diversas ideias - fui até à cozinha preparar o jantar. Tinha decidido fazer esparguete à bolonhesa. Era prático e fácil e à partida eu sabia que eles gostavam.

A presença da Raquel e do Mário teve um efeito positivo, quase que levando todo aquele mal-estar presente em toda a casa. Conseguiram-me animar depois de um dia tenso, contando várias piadas das suas infindáveis listas de bom humor. Era sempre agradável tê-los por perto nestas alturas, mesmo eu sabendo que o Mário estaria desejoso por me espicaçar em relação ao Tiago, um grande amigo que tinha feito nos dois anos que ali morávamos. Porém, ele mostrou-se à altura do desafio, como que sabendo que eu não queria ouvir a sua opinião.

No fim daquele convívio tão ameno, a Raquel voltou a proferir as sábias palavras de amizade:

- Sabes que se precisares de alguma coisa, é só bateres à porta. É no prédio ao lado, mas é pertinho... Olha para mim - pediu ela, vendo que eu me recusava a enfrentá-la - Tu sabes que vais conseguir ultrapassar isto. Já passaste por tanto, mas vais conseguir também ultrapassar isto também.

 

Depois de uma noite praticamente passada abraçada à sanita, esta noite iria dormir no conforto de uma cama. Não na cama que tinha partilhado com o Tiago, mas na que estava no quarto de hóspedes.

Apesar das discussões que íamos tendo, apesar da decisão de divórcio, tínhamos ficado amigos e sócios e, de quando em vez, havia uma espécie de reconciliação, ainda que às vezes se resumisse a uma noite bem passada entre os lençóis.

Mas aquela última altercação tinha sido diferente. Envolvera todos os sentimentos ignorados e omitidos, todas as cobranças nunca proferidas e ciúme. Nunca nenhum de nós, apesar de tudo, dera motivo para existir isto na nossa relação.

Pensando nisso, sentia-me culpada. Sentia que devia ter tido mais cuidado com a contínua aproximação do Ricardo desde que nos havíamos reencontrado. Mas tudo me tinha parecido tão normal, tão inocente, até àquele beijo intenso que tínhamos trocado há dois dias. Portanto, só ali, só sabendo o que tinha acontecido é que o Tiago podia mostrar ciúmes. Não antes.

Então, porque é que continuava a sentir-me culpada? A sentir que tinha traído o Tiago, ainda que estivéssemos separados?

Aconcheguei-me entre os lençóis e os cobertores. As noites já eram ligeiramente menos frias à medida que nos aproximávamos da Primavera. Mas eu estava sozinha naquela cama estranha.

 




df @ 12:55

Ter, 03/11/09

- Ia-te mesmo ligar, querida. Desculpa, mas já não vou aí jantar. - afirmei, tentando evitar que toda a dor que sentia transparecesse para o outro lado da linha.

- Mas o que se passa?

- O Tiago acabou de sair daqui de casa. Tivemos mais uma discussão daquelas... Mas acho que esta foi a última. - declarei, numa tentativa vã de que aquilo fosse algo banal.

- Há três meses disseste o mesmo e depois viu-se...

- Mas não, Raquel - retorqui. Sentei-me no sofá, puxando o pequeno cobertor axadrezado azul escuro para mim. - Desta vez foi tudo dito... Acho que tudo aquilo que ambos tínhamos guardado para nós nos últimos anos, foi dito...

- Queres que vá aí, amiga?

- Não, obrigado. Quero só me ir deitar e tentar dormir. Amanhã, se quiseres, almoçámos juntas, está bem?

- De certeza que não queres que vá aí?

- Não, Raquel. Obrigado e mais uma vez desculpa por não aparecer. Pede desculpa também ao Mário. Até amanhã.

Larguei o telemóvel em cima da mesa de centro, que estava por cima de um tapete liso preto, e fui para o quarto. Entrei e, intencionalmente, várias lembranças me vieram à mente. Umas em que estávamos a fazer amor, outras em que estávamos somente a trocar impressões sobre o dia um do outro e, por fim, algumas discussões, em que havia roupa a cair no chão , atirada com violência, molduras nossas viradas para baixo, escondendo os nossos sorrisos....

Corri para a casa-de-banho e levantei rapidamente o tampo da sanita. Não tinha quase nada no estômago, mas ainda assim vomitei fosse o que fosse que lá tinha estado guardado.

O azedume que sentia na boca era igual àquilo que naquele momento sentia pelo Tiago.

Puxei o autoclismo e deixei-me cair no chão gelado, encostada à sanita. Tirei uma das tolhas de rosto que estavam penduradas mesmo ao lado do lavatório. Limpei a cara e fiquei a olhar o vazio, sem me aperceber que as horas passavam e que os meus olhos fechavam, cansados da luta diária.

 

O dia seguinte foi mais um pesadelo. Tudo correu mal. Cheguei à loja de manhã sem as chaves para a abrir. Já atrasada, voltei para casa para as ir buscar.

Na parte da manhã entrou somente uma cliente, que nada comprou, nem sequer um par de meias, lançando-me um olhar desagradado, por pelos vistos, não ter nada que lhe agradasse. Às duas horas e meia da tarde, hora em que regressava do almoço - que foi um sumo e duas bolachas - recebi o telefonema da Adriana a informar-me que precisava de faltar, porque a sua mãe adoecera.

Como é evidente, dispensei-a sem qualquer dúvida e nem sequer ponderei descontar-lhe o dia. A rapariga não merecia.

Sem me poder ausentar por um longo período de tempo, permaneci na loja, lendo e relendo o Jornal de Notícias, que comprara logo pela manhã, nas restantes horas que compunham a tarde de quinta-feira. Mas o dia não podia acabar pacificamente. Ainda tinha que receber mais um telefonema interessante: o advogado da família, como se auto-intitulou, o doutor João Bernardo Costa, convocou-me para uma reunião informal em casa dos meus pais, nos Carvalhos, para a leitura do testamento, no sábado à tarde. Não me questionou se estaria disponível, apenas me disse qual era a hora para a comparência e que era imperativa a minha presença.

Não sabia se havia de rir ou de chorar. Mantive-me na posição de sempre: apreensiva com o que quer que fosse que viesse dos meus pais.

 




df @ 21:02

Dom, 01/11/09

Fui a última a chegar. Como sempre eu estava atrasada. Elas não. Elas eram pontuais.

O restaurante era o habitual. Um local calmo perto do sítio onde tínhamos crescido juntas. Era o espaço perfeito para nos encontrarmos depois de uma semana atarefada, entre maridos, namorados e/ ou filhos.

Aqueles eram os nossos momentos. Sentávamo-nos à volta da mesa, como nos tempos do liceu, entre gargalhadas e tristezas, preocupações e alegrias.

A Madalena, a Carolina e a Luísa faziam parte da minha vida desde tempos incontáveis. Eu era a rapariga que se tinha concretizado em todas as áreas. Era feliz com o meu marido, tinha um adorável filho de dois anos e uma carreira minimamente estável como responsável do departamento de recursos humanos numa média empresa. Quer dizer, era a única naquele departamento... Mas esta aparente vida abençoada trazia demasiadas responsabilidades e só ali, naquelas três ou quatro horas que passava com elas, descontraía e esquecia todas as ralações de uma vida, que foi acontecendo ao sabor do vento.

No fundo, elas eram a minha âncora no meio de um oceano de problemas e sabiam-no. Mas eu mal tinha tempo para elas.

Entre um gole de vinho branco ou um de uma bebida sem álcool, as conversas fluíam e os desabafos eram constantes. Uma não conseguia encontrar aquele homem que a faria feliz, o 'tal' como lhe chamávamos, outra estava constantemente desempregada, outra simplesmente porque tinha partido o salto do sapato enquanto de dirigia para o emprego. 

Ríamo-nos muito e no fim daquele sábado à noite, o dia do mês que reservávamos só para nós as quatro, regressávamos aos nossos mundinhos rotineiros.

Sim, éramos mulheres e amigas.

 

 

 

 

 

Texto escrito para o 'Fábrica de Histórias' e dedicado às minhas amigas, que se têm mostrado presentes na minha vida e eu na delas.

 



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

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Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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