A tarde de sábado estava amena, mas só me apetecia permanecer dentro de quatro paredes.
O Tiago almoçou comigo, recordando os velhos tempos não muito longínquos. Tinha ficado afectado com a morte do meu pai, apesar de só ter estado uma vez com ele. O meu ex-marido tinha uma particular ligação à família.
- Vais à missa de sétimo dia? - perguntou-me ele, depois da refeição.
Estávamos sentados lado a lado num dos dois sofás de três lugares, com a televisão ligada num canal generalista, onde passava uma comédia romântica pela milionésima e uma vez.
- Talvez. Não sei.
- Acho que deverias ir. Se quiseres acompanho-te.
Fiquei calada por uns segundos, reflectindo nas palavras dele até que decidi dizer:
- Se for, Tiago, não vais comigo. Mas agradeço.
- Não sei porque...
- Tiago, - pronunciei, tentando estar o mais séria possível - não quero que mistures as coisas. Somos amigos e sócios, nada mais. O divórcio está praticamente concluído e é assim que vai continuar, está bem?
- Não falei com essa intenção, Diana. Entendeste-me mal - defendeu-se, os seus olhos castanhos escuros mostrando uma ligeira indignação.
- Ora se eu não te conhecesse...
- Nunca escondi que continuo a gostar de ti como da primeira vez que te vi.
- Pois, mas não aceitaste a minha opinião em relação à minha família. Nunca respeitaste os problemas que tive com o meu pai, Tiago - Levantei-me, desta vez, calma, talvez por já ter perdido a conta às discussões sobre este tema - Nunca aceitaste o facto de eu não querer ter filhos, pelo menos por agora.
Ele ergueu-se também, colocando-se frente a frente comigo, o corpo demasiado perto de mim.
- Não entendo isso não, Diana. Estivemos casados quatro anos, era mais que natural que tivéssemos filhos.
- O problema é que não era natural, Tiago, para mim pelo menos não o era. Não quero ter filhos e não sei se alguma vez irei querer. Entendes isso?
A campainha tocou, deixando a discussão a meio, apesar de nós os dois já sabermos qual a conclusão: vários dias sem trocarmos uma palavra ou o estritamente necessário.