- Interrompi alguma coisa?
- Nada de importante, Ricardo. Olha, já podes fechar a porta. Vou só acabar aqui as contas e já vamos embora. Senta-te aí no sofá.
- Precisas que te ajude em alguma coisa?
- Não, obrigado - respondi.
Aquela proposta do Tiago ecoava na minha mente e assumia cada vez uma maior importância naquele momento.
Dirigi-me até ao pequeno armazém nas traseiras da loja, onde mantinha um pequeno escritório, entrei e fechei a porta. A enorme vontade de chorar voltou, perante a percepção de que muita coisa podia ter sido diferente com apenas uma decisão: ficar em Lisboa há uns três anos. Ou daí até não...
Enxaguei as escassas lágrimas que me permiti derramar com um pequeno lenço de papel, que estava esquecido há muito tempo na mesa do computador. Respirei fundo e voltei para a loja.
- Olha, Ricardo, não tenho vontade de ir jantar fora. Importas-te de irmos para minha casa?
- Claro que não - respondeu, levantando-se do banco onde se tinha instalado. Olhou-me directamente nos olhos, aproximando-se a passos largos de mim - O que se passa?
- Não se passa nada.
- Então porque tenho a impressão de que estiveste a chorar?
- É mesmo só impressão, Ricardo. - afirmei, virando-lhe as costas, dirigindo-me para o balcão, onde tinha a minha carteira.
- Não me queres contar, pois não?
- Porra, Ricardo - voltei-me para ele - Já te disse que não se passa nada! - exaltei-me.
- Não, Diana, alguma coisa se passa. Conheço-te bem demais. O que é que ele te fez?
- Ele? Ele quem?
- Ora, não te faças de desentendida. O teu marido, claro está.
- O meu ex-marido! - corrigi.
- Então sempre se passou alguma coisa... - adiantou.
Respirei fundo. Voltei a respirar fundo. Não me queria chatear com o Ricardo, não me queria afastar dele. Gostava de estar com ele, de conversar com ele. Respirei fundo mais uma vez.
- Fazemos assim, Ricardo. Eu admito que alguma coisa se passou, mas é um assunto em que eu ainda preciso de pensar. Por isso, não vamos voltar a tocar nisto. Pode ser? Podemos ir jantar agora? Tenho uma lasanha em casa. É só colocar no forno...
Ele anuiu contrariado e fomos, cada um no seu carro, para minha casa.