Fui a última a chegar. Como sempre eu estava atrasada. Elas não. Elas eram pontuais.
O restaurante era o habitual. Um local calmo perto do sítio onde tínhamos crescido juntas. Era o espaço perfeito para nos encontrarmos depois de uma semana atarefada, entre maridos, namorados e/ ou filhos.
Aqueles eram os nossos momentos. Sentávamo-nos à volta da mesa, como nos tempos do liceu, entre gargalhadas e tristezas, preocupações e alegrias.
A Madalena, a Carolina e a Luísa faziam parte da minha vida desde tempos incontáveis. Eu era a rapariga que se tinha concretizado em todas as áreas. Era feliz com o meu marido, tinha um adorável filho de dois anos e uma carreira minimamente estável como responsável do departamento de recursos humanos numa média empresa. Quer dizer, era a única naquele departamento... Mas esta aparente vida abençoada trazia demasiadas responsabilidades e só ali, naquelas três ou quatro horas que passava com elas, descontraía e esquecia todas as ralações de uma vida, que foi acontecendo ao sabor do vento.
No fundo, elas eram a minha âncora no meio de um oceano de problemas e sabiam-no. Mas eu mal tinha tempo para elas.
Entre um gole de vinho branco ou um de uma bebida sem álcool, as conversas fluíam e os desabafos eram constantes. Uma não conseguia encontrar aquele homem que a faria feliz, o 'tal' como lhe chamávamos, outra estava constantemente desempregada, outra simplesmente porque tinha partido o salto do sapato enquanto de dirigia para o emprego.
Ríamo-nos muito e no fim daquele sábado à noite, o dia do mês que reservávamos só para nós as quatro, regressávamos aos nossos mundinhos rotineiros.
Sim, éramos mulheres e amigas.
Texto escrito para o 'Fábrica de Histórias' e dedicado às minhas amigas, que se têm mostrado presentes na minha vida e eu na delas.