Sabendo de antemão que só seríamos felizes um com o outro, por todo o passado que partilhávamos, por toda a compreensão e por todo um conjunto de coisas que tínhamos em comum, finalmente decidimos - sem ter nenhuma oposição - ir viver juntos.
Dei uma oportunidade ao meu pai e fui conhecer o apartamento que ele me tinha oferecido, local muito acolhedor e o escolhido para eu e o Ricardo estarmos juntos.
O Tiago continuou meu sócio na sapataria, apesar de tê-la transferido, contra a sua vontade, para o centro de Gaia. O divórcio saiu, depois de termos chegado a um acordo amigável. Ele declinou a parte a que tinha direito à minha herança, colocando por fim um ponto na nossa relação amorosa. Talvez por respeito, talvez por ter percebido que não valia a pena massacrar-nos com tantos problemas. Para ele, o passado era o passado e talvez realmente aplicasse isso na sua vida. No fundo, nunca nos chegámos a conhecer verdadeiramente e apenas partilhávamos a vontade de nos amarmos. Mas não foi suficiente.
Provavelmente, as pessoas nunca se chegassem a conhecer por um todo. Seria necessária uma vida para tal e nem mesmo o Ricardo me conhecia tão bem como pensava, mas ainda assim era o que melhor me conhecia.
Eu tentava agora viver um dia de cada vez evitando qualquer contacto com a minha mãe, sempre que visitava os pais do Ricardo e me mentalizando que o meu sentido maternal aparecia, desejando num futuro próximo partilhar a alegria com o Ricardo de termos um filho.
Mas antes disso, precisava de ganhar coragem - que me faltava constantemente - para contar ao Ricardo o meu problema: tinha sido dependente do álcool durante quase um ano, pouco depois de me mudar para Lisboa e, ainda que mais ou menos controlado, tinha situações em que as recaídas eram muito fortes.
Mas isso já é outra história...
Fim