Numa entrega intensa física e emocional, os nossos corpos despidos de preconceitos repousavam num estreito sofá.
Talvez pela primeira vez na vida, não sabia exactamente como descrever todas aquelas sensações que surgiam em mim. Talvez pela primeira vez deixara de pensar no passado, de viver o passado para sentir o presente.
Momentaneamente senti-me capaz de enfrentar as adversidades deste mundo cruel, que nos tira aquilo que nos deu com tanto amor... Momentaneamente senti que poderia haver uma cura para a minha dor. Momentaneamente não consegui desfazer um sorriso dolorosamente feliz da minha boca. Momentaneamente senti que nada podia acabar com aquele quadro de um casal... Casal... Quem diria que um dia poderia proferir esta palavra? Talvez antes de os ter perdido, tivesse pensado nisso...
Levantei-me e comecei a pegar nas minhas roupas.
A madrugada já ia alta e a luz fraca do dia começava a querer forçar a entrada pelas ripas do estore. Continuava sem saber se realmente queria acordar para a realidade... Não, tinha que sair dali...
- Não queres ficar mais um pouco? - perguntou ele.
Não se coibia de mostrar o seu corpo delineado por várias horas dedicadas ao ginásio.
A oferta era quase irresistível, não fosse faltarem pouco mais de duas horas para o consultório abrir.
- Vem almoçar então comigo - pediu.
Depositei-lhe um último beijo naqueles lábios deleitosos e dirigi-me para a saída.
Teria sido tudo um sonho?