Os TEXTOS que se seguem são pura FICÇÃO e qualquer semelhança com a REALIDADE é pura coincidência!
Este espaço permite-me dar-vos a conhecer todo o meu entusiasmo pelas palavras.


df @ 14:53

Dom, 17/01/10

Abri a persiana pela manhã e observei o mundo lá fora, satisfazendo-me por estar protegida das intempéries deste Inverno.

Peguei no embrulho rasgado, que estava em cima da cómoda, e retirei a prenda que me tinham oferecido no dia anterior: uma bonita écharpe em preto e branco. Admirei-a, pensando com qual conjunto conjugaria melhor aquela peça, mas por enquanto tinha que saber onde a guardar, quando não a usasse. A gaveta das écharpes e cachecóis estava cheia e, como tal, tinha que os mudar de lugar.

 

Foi então que me lembrei de uma das gavetas do meu roupeiro. Era a última de um conjunto de três que estavam na vertical e que ficava mais perto da parede do quarto. Estava esquecida, quase imperceptível ao dia-a-dia. Por estar tão escondida, eu guardava lá com frequência papéis, fotografias, enfim objectos que tinham um certo significado para mim.

 

Então, ao abri-la encontrei, no topo, um guardanapo com o símbolo de um restaurante. Era uma lembrança de uma viagem que tinha feito a Coimbra, na altura da faculdade, nas raras vezes em que todos se conseguiram juntar para ver uma exposição de fotografia que se espalhava pela cidade. Juntamente com isso, estavam fotografias de tempos esquecidos, que não voltaram a se repetir.

Retirei-os e coloquei-os delicadamente no chão.

Em seguida, retirei papéis de coisas escritas por mim, de momentos vividos com intensidade. Mas ignorei-os e por baixo encontrei uma pequena caixa de metal, já com ferrugem, de uns bombons que eu gostava muito e que despertou mais a minha atenção. Tirei a tampa e surpreendi-me com o seu conteúdo. Era uma espécie de junção entre a vida e a morte, a esperança e a mágoa. Havia uma folha muito fina dobrada em quatro. Desdobrei-a. Era o documento que datava da altura do meu nascimento: tinha o meu nome, o meu pequeno peso e a minha pequena medida, tendo sido acrescentada uma observação importante, o defeito com que tinha nascido no coração. A este papel estava associada a enorme luta pela sobrevivência, minha e da minha mãe. Foram mais de dois anos a resistir a constantes infecções, doenças perante um coração bastante debilitante. Lembrava-me constantemente das histórias que a minha querida progenitora contava com sofrimento e orgulho. Eu estava viva!

 

Mas ele não estava.

Ao lado deste documento, vi a coleira dele. Mais de treze anos a acompanhar-me nas várias etapas da minha vida: viu-me ter sucesso na escola, sem o entender que o era, viu-me começar a namorar, viu-me a casar. Era tudo para mim. Mas até os melhores amigos se vão e depois de ter sido atingido por um tumor na anca e sem esperança de cura, tive que lhe dizer Adeus. Era o meu cão, o meu amigo, o meu menino, como lhe chamava com frequência. Mas tenho as melhores recordações dele, de quando ficava feliz quando me via chegar a casa, de quando sabia que eu ia levá-lo a passear... Fiquei triste ao ver aquilo, mas por outro lado, dei graças por o ter tido na minha vida.

 

Tirei todos os objectos da gaveta e decidi colocá-los numa das gavetas da minha mesa-de-cabeceira. Afinal, as lembranças eram mais importantes do que pensava. Tinham sido momentos vividos por mim, que por mais que me doessem, não podiam ser relegados.

Arrumei todos os cachecóis e écharpes, limpei as lágrimas e fui até à cozinha tomar o pequeno-almoço.

 

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias




df @ 21:02

Dom, 01/11/09

Fui a última a chegar. Como sempre eu estava atrasada. Elas não. Elas eram pontuais.

O restaurante era o habitual. Um local calmo perto do sítio onde tínhamos crescido juntas. Era o espaço perfeito para nos encontrarmos depois de uma semana atarefada, entre maridos, namorados e/ ou filhos.

Aqueles eram os nossos momentos. Sentávamo-nos à volta da mesa, como nos tempos do liceu, entre gargalhadas e tristezas, preocupações e alegrias.

A Madalena, a Carolina e a Luísa faziam parte da minha vida desde tempos incontáveis. Eu era a rapariga que se tinha concretizado em todas as áreas. Era feliz com o meu marido, tinha um adorável filho de dois anos e uma carreira minimamente estável como responsável do departamento de recursos humanos numa média empresa. Quer dizer, era a única naquele departamento... Mas esta aparente vida abençoada trazia demasiadas responsabilidades e só ali, naquelas três ou quatro horas que passava com elas, descontraía e esquecia todas as ralações de uma vida, que foi acontecendo ao sabor do vento.

No fundo, elas eram a minha âncora no meio de um oceano de problemas e sabiam-no. Mas eu mal tinha tempo para elas.

Entre um gole de vinho branco ou um de uma bebida sem álcool, as conversas fluíam e os desabafos eram constantes. Uma não conseguia encontrar aquele homem que a faria feliz, o 'tal' como lhe chamávamos, outra estava constantemente desempregada, outra simplesmente porque tinha partido o salto do sapato enquanto de dirigia para o emprego. 

Ríamo-nos muito e no fim daquele sábado à noite, o dia do mês que reservávamos só para nós as quatro, regressávamos aos nossos mundinhos rotineiros.

Sim, éramos mulheres e amigas.

 

 

 

 

 

Texto escrito para o 'Fábrica de Histórias' e dedicado às minhas amigas, que se têm mostrado presentes na minha vida e eu na delas.

 




df @ 23:01

Dom, 11/10/09

 

Sentei-me no sofá da sala de paredes beges, sabendo que já foi – e voltará a ser – um local onde já partilhamos muitos momentos a sós, nas tardes frias de inverno, com a lareira acesa, mesmo à nossa frente.
Estás longe…
Peguei numa folha branca e numa caneta e comecei a desenhar algumas letras. Tinha tantas saudades tuas, tantas coisas para te contar e não sabia como…
Ergui a cabeça e olhei pela janela grande. Tinha colocado a cortina laranja para trás para poder ver o movimento exterior: pessoas a pé, acompanhadas por outras, carros, o metro…
Sentia-me sempre muito segura ali, mesmo sem a tua presença física. Mas conseguia imaginar-te a entrar devagarinho na sala, como muitas vezes fazias após um dia de trabalho, para não me incomodares nas minhas constantes ausências de consciência, em que vagueava lentamente pela minha imaginação. Era então que, com cuidado, puxavas o cobertor fino axadrezado, de cor bege e laranja para cima, aconchegando-me. O símbolo chinês bordado em castanho em ponto grande, que o povoava mesmo no centro, era estranho para nós, mas gostávamos de pensar que significaria amor, pois era exactamente aquilo que sentíamos um pelo outro. Depois tiravas os sapatos pretos, deixando-os em cima do extenso tapete, colocado entre o sofá e o móvel negro da televisão, exactamente com as mesmas cores do cobertor e sentavas-te no exíguo espaço do sofá, que eu não ocupava. Sabia que ficavas ali por alguns minutos, observando-me, acariciando os meus cabelos longos pretos.
Mas agora estás longe…
O incenso de morango começava a deixar o seu saboroso aroma no ar, deixando-me ainda com uma maior saudade.
Eu estou em Portugal e tu estás há mais de duas semanas em França. Tão longe e tão perto.
Escrevo-te. Escrevo-te aqui na nossa sala, com receio de não conseguir transmitir todos os meus sentimentos pelo telefone.
Sentes saudades minhas?
A fotografia grande, que ocupa a parede onde está o aparador preto, mostra um dos momentos mais felizes da nossa curta vida em conjunto. Estávamos na praia de Salgueiros, em Gaia, e acompanhava-nos um pôr-do-sol magnífico. Tínhamos acabado de descobrir que íamos ser pais…
Mas agora eu estava sem ti, com o nosso gato malhado aninhado aos meus pés, e o nosso bebé de quatro meses a dormir tranquilamente no sofá preto, de tecido sintético, embrulhado cuidadosamente no pequeno cobertor branco.
Levantei-me e dirigi-me para a mesa oval negra, que tinha o computador portátil ligado e uma taça de vidro decorativa. Sentei-me numa das quatro cadeiras de madeira, também pretas, de tecido bege.
Lembrava-me que tínhamos sido muito exigentes na decoração da nossa sala, pois queríamos sentirmo-nos bem dentro do nosso lar.
Abri um documento de texto e comecei a transpor as palavras que tinha escrito na folha. Não tinha conseguido descrever exactamente aquilo que queria. As saudades eram tantas e acabei por te falar das pequenas aventuras que tinha tido com a nossa filha, durante a tua ausência. Ela estava tão bonita e parecia que nestes parcos dias que já não estavas connosco, ela tinha crescido tanto…
Enviei-te por e-mail aquilo que consegui desabafar e desliguei o computador.
Tornei a olhar em volta para a nossa sala.
As estantes, recheadas de livros que se debruçavam sobre vários temas, faziam-me lembrar o nosso intenso gosto pela leitura. Dirigi-me às duas estantes de mogno e tirei o livro ‘A insustentável leveza do ser’, de Milan Kundera, que me tinhas oferecido há uns anos e que eu tinha devorado em poucos dias. Decidi recordar esse romance, enquanto o sono comandava as acções da nossa menina.
Voltei a sentar-me no sofá e após alguns minutos embrenhada naquelas páginas, ouvi a porta da sala ranger devagarinho. Eras tu. Tinhas voltado para mim, fazendo-me uma surpresa. A formação que tinhas ido fazer pela empresa onde trabalhavas tinha acabado e agora juntos, podíamos regressar ao nosso blog e continuar a escrever, ali no conforto da nossa sala, sobre o desenvolvimento da nossa primeira filha.

 

Texto escrito para o blog 'Fábrica de Histórias'.
 




df @ 17:38

Ter, 01/09/09

O blog 'Fábrica de Histórias' está a festejar um ano de existência e da minha parte recebe também os parabéns e o apoio para continuar com o bom trabalho e novos desafios que vão surgindo, sendo que já colocaram um novo sob três plataformas: 'uma história, um template para o blog e uma ideia brilhante e estão todos convidados a participar. Não propomos qualquer tema. A criatividade é vossa'.

 

Parabéns aos seus Autores e contribuintes...

 




df @ 17:53

Sab, 13/06/09

Abri a porta. Entrei pela primeira vez naquela divisão requintada, mantida por heranças familiares, após mortes suspeitas. Quer dizer, para mim não eram, mas para outros talvez.
Observei todos os objectos colocados cuidadosamente nos seus lugares. A sala estava demasiado arrumada, demasiado limpa. Diria mesmo que o aroma a lixívia estava a tornar-se insuportável.
Numa parede branca, estavam expostas fotografias a preto e branco de mulheres anónimas. Mulheres que passeavam no jardim ali perto, que faziam as suas compras descontraidamente, que faziam as suas refeições nos seus restaurantes favoritos. Noutras fotos, essas mesmas mulheres jaziam, pálidas e feridas, suplicando no olhar um pouco de compaixão. Mas o resultado tinha sido apenas levar as suas almas à loucura, ao desespero, ao desejo de realmente morrerem.
Fiquei petrificada. Não conseguia conceber alguém capaz de tal atrocidade humana.


Mas aquele era o local ideal para ele esconder a sua verdadeira identidade. Aquela cave, que estava sempre fechada à chave, que ele nunca deixava entrar ninguém, era o espaço perfeito para ele levar aquelas mulheres que supostamente conhecia espontaneamente.
Dei por mim a pensar qual seria o seu critério. Seria por serem bonitas? Não. Seria por terem corpos esbeltos? Não. Era ao acaso. Só podia. Nenhuma delas tinha nada em comum. Umas eram morenas, outras loiras. Umas com olhos castanhos, outros azuis.
Questão seguinte. O que o levaria a cometer tal insanidade? A torturá-las daquela maneira?
Tinha lido as notícias que saíam nos jornais. As descrições não faziam jus às fotografias que eu contemplava. Os crimes tinham sido ainda mais horrendos do que aqueles que se falavam. E ele tirava fotos como recordação.
Os rostos das mulheres tinham cortes finos, sangue seco à volta, revelando que tinham sido feitos ainda elas estavam vivas. O pescoço, outrora belo, mostrava ser uma parte do corpo excelente para afiar as lâminas das facas.
A minha mente começava a imaginar como ele tinha cometido aqueles homicídios. Todo aquele sangue, todo aquele sofrimento…
 

- Porquê? Porque é que o fizeste? – Perguntei, sem conseguir tirar os olhos das fotografias, ao ouvir barulho por trás de mim.
- Porque é que há-de haver um motivo? Simplesmente gosto de estar com elas uma vez e depois dou-lhes um adeus… eterno. – Respondeu, com completo desprezo pela existência feminina.
- Chegou a minha vez?
- Não queria, mas achas que te iria deixar sair? Foste esperta quando me conseguiste tirar as chaves daqui, mas não o suficiente. Por isso, dei-te tempo para te ambientares com isto. Mas agora, sou eu que te pergunto, como descobriste que era eu?
- Talvez por pura coincidência. Há dias, vi que tu entraste com aquela última mulher que foi assassinada, aqui para a cave. A foto dela saiu no jornal. Estava abandonada, tal como as outras, à porta da igreja. Como tu só vens com elas para aqui… Alguma coisa devias de esconder de terrível…
- Podia ser simplesmente o meu ninho de amor, prima. Mas tens razão, foi um descuido da minha parte. Julguei que já tinhas saído para o teu trabalho. Pois é, como vês, estas são as minhas obras-primas. – Retorquiu, abrindo um pequeno baú, retirando de lá uma faca, com resquícios de sangue.
- Isso é para me assustar?
- Devias estar assustada. Chegou a tua vez. Sabes, nunca gostei que vivesses aqui comigo, mas os tios insistiram. Disseram que podias incutir-me alguma responsabilidade. Essa foi de gritos. Vivo como quero, dinheiro não me falta. Não preciso de mais nada. Agora, faz-me um favor, grita à-vontade. Podes ter a certeza, que aqui ninguém te ouve…
 

 

Texto ficcionado para a Fábrica de Histórias.



DESAFIO

Coloquei-vos há tempos o desafio de darem um TÍTULO à nova história que se irá desenvolver nos próximos meses aqui. Ainda não vos dei muita informação, a não ser que as personagens se chamam Rafael e Juliana e que trabalham na mesma empresa. Conforme vou publicando os posts, certamente irão perceber que há muitos segredos para serem revelados...
Além do título, também espero que deixem nos comentários o vosso feedback.
Obrigado
A Gerência

Rubricas:

Além de uma nova história a decorrer no blog, acompanhem também a nova rubrica do blog 'PERDIDOS E ACHADOS DA VIDA', pequenos textos que incidem sobre... Leiam e descubram...

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